panteras, elfos, leopardos e fantasmas passeavam pelo jardim. Ela passou quase perto deles, me acenou, eu a reconheci. Fui para perto dela, papear. O assunto era o tempo. Calor né? Muito! Assunto banal que consegue unir qualquer pessoa, desde a mais distante caipira ao mais próximo salafrário da Europa. Só que conversar com Alana enquanto meus sonhos pululam em fervor e vida, é uma coisa arriscada... Ela gostava muito de conversar sobre política, e também sobre o clima, rindo que esses assuntos são os que menos interessam as mulheres. Alaninha, você não é uma mulher como as outras. Ela ria, gostava de ouvir minhas piadas sem graça, que eu contava-lhe com certo ar de comediante profissional. A ornitologia a fascinava, enquanto eu preferia muito mais o estudo dos insetos.
Ela não gostava nada nada de coleópteros ou lepidópteros, embora meus argumentos sobre as magníficas asas desses últimos a fascinava muito. Eu não sei como você gosta dessas coisas, de insetos. Eu não gosto muito de insetos, você sabe bem. E ela me contou um caso, quando era pequena uma formiguinha que pegara e fora beijar, mordera-lhe os lábios, brotando uma forte cacheira de sangue de seus lábios infantis e juvenis. Ela disse que entrou em choque, e aquilo a marcou profundamente, embora me jurou que amava os animais, principalmente, nas áreas insetíferas, os himenópteros.
Eu gostava muito de apreciar a sua beleza, seu forte senso de humor para comigo, já que sempre fui muito chato em relação a interação com outras pessoas. A pantera negra rodeava-lhe, querendo destroçar-lhe o coração, e eu a afastava para que não fosse devorada pelo felino, que queria se alimentar de seu corpo (assim como eu queria apalpa-lo na escuridão do amor).
O sol entrou em uma enorme nuvem, enquanto ela dizia que queria tomar um tereré, já que estava terrivelmente quente, e sua garganta estava seca. Seu fosse mais corajoso, teria lhe dado um beijo e molhado com minha lívia sua boca seca. É claro que se eu tivesse feito isso, ela teria estranho, pelo fato de que eu estava ainda vendo elfos andando pelas árvores que nos arrodeavam. Sim Alana, eu espero você trazer o tereré. Sim, eu posso te ajudar. Eu só não gosto nada de encontrar com o seu irmão ou com o seu pai, que também tem algo contra mim, lhe asseguro.
Tomamos a bebida sentados. Fitei-a, que belos olhos verdes ela tinha, que bela pele entre o moreno e o branco, ela tinha. Que cavalheiro não iria se encantar por sua beleza minha Alaninha? Desde de suas cochas grossas e soberbas até os caracóis caídos, prontos para fazer com suas nádegas o que muito me queria fazer minhas mãos safadas. Não me ache safado dizendo essas coisas Alana, você sabe muito bem que a música clássica nos uniu, e nos incluiu num mesmo contexto. Eu tocava violão, quando tombei com ela numa rua solitária, estava muito escuro altas horas da noite. Ela também estava com um violão, o que com certeza era coincidência divina. Nos esbarramos, e como qualquer mulher, começou a conversar com o feio tímido que lhe tombará o caminho. Naquela época eu ainda não avistava elfos no meio da calçada, e nem sonhava em vomitar tricerátopos da minha boca. Eu não preciso da bendita auto-ajuda Alana, eu gosto de viver na minha loucura, como você também gostava antes de se afastar do meu coração, e ir para o coração dele.
Aposto que você não recebeu o meu chocolate de amendoim que eu lhe enviei de presente de aniversário. Aposto que recebeu, mais não leu a carta em que eu lhe dizia que te ama muito. Com certeza o fogo azul do isqueiro do seu amorzinho apagou-as e você nunca ficaria sabendo desse amor, nem se eu escrevesse-o nas constelações ou escrevesse um romance de oitocentas páginas para explicá-lo e prová-lo. O que de qualquer forma não daria em porra nenhuma. Tínhamos quinze anos cada um quando nos conhecemos, e eu inda fui jantar em sua casa algumas vezes, e você dizia que meus poemas eram muitos confessionais. Você gostou da minha mamãe e eu gostei da sua. Engraçado como nos enveredamos por caminhos diferentes, estranhos e misteriosos. Aquele jardim todo ainda envereda minha lembrança, aquele momento em que passamos a discorrer sobre a infinita possibilidade de o amor nos encontrar. Não notei o brilho dos seus olhos e nem você notou o brilho dos meus.
panteras, elfos, leopardos e fantasmas passeavam pelo jardim naquele dia. Foi o dia em que pude confessar-lhe o meu amor. Hoje já é um pouco tarde...
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