sábado, 30 de março de 2013

sem explicação (conto)

Sentei-me na cadeira de cordas coloridas esperando alguma coisa acontecer, mas enquanto observava as árvores balançando com o vento de um lado para o outro, poeticamente dançando, eu fechei os olhos e sem querer adormeci. Havia tantas nuvens grandes ao meu redor, que eu me sentia no céu, quase tocando os pés de Deus ou de algum anjo capaz de me abençoar com um toque, e e tudo se dissolvesse e se tornasse uma tempestade de nuvens negríssimas? Seria o mal, o inferno, ou a delícia de se molhar me elevaria de novo perto da bondade dos infinitos deuses do mundo inteiro? Observei meu cachorro com tristeza. Meus sofrimentos nem sequer chegavam perto dos sofrimentos de um ser que vive por viver, e como eu (eu sou o cachorro ou o meu cachorro sou eu?) não sabe se vive apenas por viver ou vive apenas para no final (eis o choque da vida, a grande emoção que une a todos em uma peça de teatro terrivelmente má-explicada) morrer. Ele levantou e começou a latir, começaram a falar a minha volta, em silêncio fiquei. Ficar em silêncio não é uma coisa tão ruim assim: a meditação plena requer o silêncio. Com quem aprendi isso, essas coisas? Não me lembro. Lembro-me da barata na parede, lembro-me da lagartixa na parede e lembro muito bem do romance que mal consegui ler na madrugada triste em insônia, que passei. Mais o relógio passa, assim como o tempo passa tão rápido, e eu sou tão moça, tão jovem que ainda não sei os rumos que tenho para chegar a algum lugar. Então deito minha cabeça em algum lugar e durmo, misteriosamente durmo, sem saber como e nem por quê. Ah, como eu queria saber o porquê de se estar dormindo, apenas revitalizando minhas forças para batalhar novamente de baixo do sol quente e escaldante. Não que isso tudo seja um complexo de medo da vida, pelo contrário, tenho tantos complexos mal-explicados, que só de explica-los eu estaria completamente louca. Mais as trovoadas me calaram, e fiquei a observar o tempo se abrindo no fim da tempestade, sem explicação, sem explicação nenhuma, abri meu caderno e com minha letra garranchada e feia, como já me disseram que assim ela é, escrevi: que explicação tenho para a formação dos sonhos, do amor, da tempestade e do universo? Nunca vi neve e que explicação tem para mim a neve, o calor, o sentimento puro de ser amado e amar? E adormeci na cadeira, sem se preocupar com nada e com ninguém, apenas com o meu cachorro de estimação, que me acordou latindo furiosamente para alguém (aposto que para o carteiro).

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