No fundo do fundo de suas vísceras, Ana Raquel sabia que jamais teria o amor de Michael; naquele momento chorava. Por mais que tentasse aceitar isso, vivia preocupada e depressiva, afinal, ela acreditava no amor verdadeiro dos filmes que assistirá em sua infância, numa cidade pequena do interior do Brasil.
Ela escrevia, poesias ruins, horríveis e sentimentais. Coisas do tipo: Assim amei\ Assim amo e assim amaremos. Vivia com uma amiga, em uma espécie de kitnet, e embora o pai riquíssimo lhe pagava a faculdade de direito, já não se interessava por nada que fosse da lei, ela estava interessada em ser uma poeta (não poetisa, ela era adepta ao anti-preconceito do termo de Cecilia Meireles, aliás, poeta que ela odiava profundamente). O amor por Michael nasceu nos dias que se passaram depois que se conheceram. Ela não sabia que ele era o cabeça por trás dos movimentos explosivos literários que aconteciam por ali. Se apaixonara sim por sua fisionomia latina: alto, branco, olhos azuis claríssimos, e boa aparência mental (ela fora criada em um ambiente burguês e burlesco).
Não percebera que ele jamais se assanhou pra cima dela, e ela ficava doida, por dentro, querendo ser possuída e desejada por tal canalha que amava. Será que ele não percebia isso? Ou o fato de ele ser um poeta explosivo e bom, e ela medíocre e ruim, os afastavam?
Ela se derretia ao ouvir suas palestras-bases sobre poesia e sobre James Joyce (o ÚNICO A SE ADMIRAR DIANTE DE TODOS OS OUTROS). "Se você gosta dele, precisa falar com ele, você não acha?", dizia Elizabeth, romancista de base, e com livro publicado. "Eu sei, mais eu não sei o que pode acontecer... E se ele gostar de outra?" "ESSE É O RISCO QUE VOCÊ VAI TER QUE CORRER NÃO ACHA?"
E ardia-lhe o peito em dúvidas sentimentais e tolas, que lhe torturavam a cabeça, e lá ia ela tomar calmantes em cima de calmantes. E escrevia compulsivamente, versos em cima de versos, apenas tentando ocupar sua cabeça, e distância-la dos olhos, dos cheiros, e da imagem de Michael, el Maldito.
Ninguém notará as mudanças dela. Passou de falante e alegre, a fechada e triste rapidamente. De repente, não mostrava seus maravilhosos versos que escrevia a noite para ninguém, e os queimava depois de escritos com a ponta do cigarro. E via seu amor, acompanhado de outras, noites e pós-noites, sem nunca lhe dar um beijo, um único mísero beijo de que tanto necessitava, que precisava. Ou um abraço, ou uma atenção.
Foi encontrada morta, com uma facada no peito, e uma única mensagem em cima da mesa: "O amor precisa ser enfrentado por pessoas fortes... Eu infelizmente, nasci FRACA". Seu último verso, compilado em uma antologia de poetas jovens e marginais...
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