A propósito de como se criar um poema
Como uma porta que se abre
Fechada mesmo pro olhar.
Não se hábita quem não sabe
que é preciso muito se preparar
para se adentrar.
O poema é um diamante.
Mas é cristal que deve ser moldado
Pouco a pouco
como água
é um solvente
que deve e quer ser hábitado.
Mais se essa habitação
que vem da tinta e do papel
for de uma palavra mau colocada
a rima irá perder o sentido
e será uma poesia (digamos)
inexata?
Mas se é uma porta que se abre
não pros olhos de quem vê
e sim para os olhos de quem hábita
para quê se preocupar
com a questão da rima?
Se adentra pouco a pouco
porque é moldada com pouco tijolo
tijolo que junto ao bloco
do papel, carrega a palavra
centralizada (quando bem colocada).
Mas hábitar o que é difícil
a rima do verso a carvão,
constroem poesia morta
sobre temas de dentro.
Mas o que há de fora do objeto
também pode ser moldado.
Afiando bem a palavra
como a pedra, o metal,
a faca e o punhal: tudo corta.
E nesse cortar não verão
rima nenhuma, pois não é preciso
hábitar com maus fagulhas
o que não se sente
o que se considera indiferente.
Mas se a diferença é
Moldar a palavra pouco a pouco
Ás vezes sobre um lado
deve ser bem flexionado
e com cuidado retirado.
Porque assim sobrará o osso
da poesia dura, firme
que é casa construída
sem rima
mais com direção
e assim poderá realmente
dizer: é poesia que hábita
a víscera profunda do coração.
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