CREPÚSCULO NA CIDADE DE CAMPINAS EM SÃO PAULO
Não sei, não sei se quero ser mar,
Não, não sou vento nem espaço,
Sou isso mesmo, esse que canta,
Esse que canta sem amar e sem ser amado.
Não sei, não sei se sou algo,
Eu, que ando no meio de tanta gente,
Sem ser visto, sou nada, eu sou nada,
Fernando Pessoa disso entenderia,
Eu sou o mesmo homem que está
Tombado e inconsciente, bêbado,
Talvez, drogado, na calçada.
Não, não, que raios, vãos, me
Deixem ser eu mesmo, que não
Quero nada, o cotidiano é insuportável!
O deus mudo que nos rege o destino
Colabora com essa aflição nos enchendo
De tristezas e pecados e ansiedades.
Vão para o inferno todos os cristãos,
Cansei de todos vocês, cansei da vida,
A vida, essa miserável vida, feita de tédio,
O mesmo tédio que me acompanha todo
Dia ao descer a alavanca do sorvete
Naq uele prédio miserável dos ricos.
Aliás, me pergunto a tí deus, como Saramago talvez fizesse,
porque separas-te teus filhos em ricos e pobre?
Ah, que ter ou não ter para o grande senhor deve ser a mesma coisa.
Ah, que tédio, que imensidão, que enjoo de existir,
Se eu não fosse tão covarde, tão vil, tão temente ao nada eterno,
Eu me mataria, porque sou essa caveira que escreve sem ter esperança.
E vou arrodeado por esses imbecis, imbecis meu deus, quantos imbecis,
Eu acredito que lá no c[eu deus deve ter uma grande fábrica judaica
Apenas para fabricar imbecis sem limite de estoque, sem precisar
Se preocupar, como diria Schopenhauer, com as reproduções e as ações,
As vontades dessas representações exóticas chamada sociedade humana.
Bah, e que desgraça é esse negócio de sociedade humana?
O que é um homem? Eu nunca vi um. Eu mesmo não sou um.
O que é um ser humano? Só conheço seres desumanos.
Vejam, eu que amo as travestis, sei que muitas sofrem,
Vejam as belas mulheres que eu amo, e que me esnobam sem motivo,
E os homens, esses animais que levam o saco escrotal cheio de esperma,
Jogando bola de um lado para o outro, será que esses se perguntam
O que é a vida? O que é a existência? A galáxia próxima tem pessoas também?
Agora me despeço.
Fiz esse poema, sem motivo, sem saber porque.
Afinal, ao morrer, choverá em algum lugar e o sol há de novo de se reerguer.
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