terça-feira, 3 de novembro de 2020

O TRABALHO DE UM ESCRITOR É SOLITÁRIO

 

O TRABALHO DE UM ESCRITOR É SOLITÁRIO


 

 

 

 

    O trabalho de um escritor é uma profissão solitária. Sentar-se em frente ao papel branco, ter a sua frente uma caneta de qualquer cor (as minhas preferidas são as cores azul ou preta), é um momento místico e glorioso.

   O mundo inteiro tem escritores. Um escritor, para mim, é aquele que escreve. Muito bem colocado! Agora façamos a pergunta certa: o que é que ele escreve?

 

     Cada pessoa nesse planeta chamado Terra tem um destino e algo que o seu interior pulsa para pôr para fora. Os escritores para mim, na minha humilde opinião, colocam no papel branco sua alma. É a alma do escritor que aparece sobre as páginas do que vai compor a existência física do seu livro (esse objeto tão místico e atemporal).

    Em formas múltiplas de crônicas, contos, poemas, romances, frases, piadas, diários, o escritor se coloca como a palavra.

    Isso para muitos pode parecer uma maluquice. Claro, que dizer que essas coisas espirituais sejam difíceis de entender pela lógica humana já é lugar comum para os teólogos. Felizmente eu não sou um teólogo.

   Basta pensarmos no processo descrito no livro bíblico onde Deus criou o mundo apenas dizendo “haja”. Foi à palavra o principio de tudo (fato também descrito no Evangelho de João, o mais hermético de todos os evangelhos; e no livro dos Provérbios).

 

 A palavra se torna a ferramenta de trabalho do escritor, assim como para o agricultor o importante é sua enxada e suas sementes, para o escritor as palavras tornam-se suas sementes e a caneta (ou a máquina de escrever, ou o computador) torna-se a enxada do trabalho do escritor.

 

Não sei qual foi o escritor russo que disse que escrever é adentrar ao fundo de um lago congelado, retirar de lá o mais belo e precioso peixe, e daí assá-lo no fogo e se saciar quentinho deitado na coberta feita com a pele de um urso marrom.

 

Acho que não existe metáfora mais linda para descrever o processo de escrita como trabalho, a não ser essa.

 

O escritor senta-se solitário e junto com o seu conhecimento, com o seu aprendizado, com a sua memória, assim como uma aranha nasce para tecer teias, o escritor nasce para tecer palavras.

 

Veio na mente outra linda metáfora ao processo do ser “escritor”. Como foi Federico Garcia Lorca, grande poeta e dramaturgo espanhol quem compôs essa frase, deixo-a aqui para que vejam a beleza exata da poética explicativa de quem nasce para escrever: “eu nasci poeta assim como aquele que nasceu cego”.

Sei que com isso um escritor pode erguer o peito e gritar para os quatro ventos que percorrem todo o planeta: “eu nasci escritor assim como aquele que nasceu cego”.

 

A arte solitária de escrever lembra os processos de uma pintura; é preciso lutar com a tinta para que a figura apareça sobre a tela branca. E é assim que o escritor faz com o seu pincel, que é a caneta. Ele força a raiz da palavra, ele traz a palavra para respirar ares novos, ele cria mundo, ele desfaz mundos, o escritor é um homem como qualquer outro: ele ri, ele canta, ele grita, ele briga, ele chora.

 

Escrever é um trabalho solitário. Mas repartir os frutos do trabalho, é esse o dom precioso e profético de todo escritor.

 

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