O
TRABALHO DE UM ESCRITOR É SOLITÁRIO
O trabalho de um
escritor é uma profissão solitária. Sentar-se em frente ao papel branco, ter a
sua frente uma caneta de qualquer cor (as minhas preferidas são as cores azul
ou preta), é um momento místico e glorioso.
O mundo inteiro tem
escritores. Um escritor, para mim, é aquele que escreve. Muito bem colocado!
Agora façamos a pergunta certa: o que é que ele escreve?
Cada pessoa nesse
planeta chamado Terra tem um destino e algo que o seu interior pulsa para pôr
para fora. Os escritores para mim, na minha humilde opinião, colocam no papel
branco sua alma. É a alma do escritor que aparece sobre as páginas do que vai
compor a existência física do seu livro (esse objeto tão místico e atemporal).
Em formas
múltiplas de crônicas, contos, poemas, romances, frases, piadas, diários, o
escritor se coloca como a palavra.
Isso para muitos pode parecer uma maluquice.
Claro, que dizer que essas coisas espirituais sejam difíceis de entender pela
lógica humana já é lugar comum para os teólogos. Felizmente eu não sou um
teólogo.
Basta pensarmos no
processo descrito no livro bíblico onde Deus criou o mundo apenas dizendo
“haja”. Foi à palavra o principio de tudo (fato também descrito no Evangelho de
João, o mais hermético de todos os evangelhos; e no livro dos Provérbios).
A palavra se torna a
ferramenta de trabalho do escritor, assim como para o agricultor o importante é
sua enxada e suas sementes, para o escritor as palavras tornam-se suas sementes
e a caneta (ou a máquina de escrever, ou o computador) torna-se a enxada do
trabalho do escritor.
Não sei qual foi o escritor russo que disse que escrever é
adentrar ao fundo de um lago congelado, retirar de lá o mais belo e precioso
peixe, e daí assá-lo no fogo e se saciar quentinho deitado na coberta feita com
a pele de um urso marrom.
Acho que não existe metáfora mais linda para descrever o
processo de escrita como trabalho, a não ser essa.
O escritor senta-se solitário e junto com o seu
conhecimento, com o seu aprendizado, com a sua memória, assim como uma aranha
nasce para tecer teias, o escritor nasce para tecer palavras.
Veio na mente outra linda metáfora ao processo do ser “escritor”.
Como foi Federico Garcia Lorca, grande poeta e dramaturgo espanhol quem compôs
essa frase, deixo-a aqui para que vejam a beleza exata da poética explicativa
de quem nasce para escrever: “eu nasci poeta assim como aquele que nasceu
cego”.
Sei que com isso um escritor pode erguer o peito e gritar
para os quatro ventos que percorrem todo o planeta: “eu nasci escritor assim
como aquele que nasceu cego”.
A arte solitária de escrever lembra os processos de uma
pintura; é preciso lutar com a tinta para que a figura apareça sobre a tela
branca. E é assim que o escritor faz com o seu pincel, que é a caneta. Ele
força a raiz da palavra, ele traz a palavra para respirar ares novos, ele cria
mundo, ele desfaz mundos, o escritor é um homem como qualquer outro: ele ri,
ele canta, ele grita, ele briga, ele chora.
Escrever é um trabalho solitário. Mas repartir os frutos do
trabalho, é esse o dom precioso e profético de todo escritor.
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