O HOMEM INVENTADO & outros poemas
A CIDADE NIILISTA
dedicado a t.s. eliot
Todas as coisas que esquecemos gritam por socorro em sonhos
Elias Canetti
Haverá outra falha que seja a alma humana,
Ou o coração irá deixar de ser uma estrela pulsante
Por causa de nossas infinitas dores abstratas!
Não sei, não sei nada que os pássaros dizem.
Minha alma é uma janela aberta para
As belas borboletas que caminham por ela.
Existem as grades e o sol, e quem sabe
Todas as casas são apenas prédios.
Pessoas, onde estão, se não vejo
Nenhuma, a não ser as névoas de velhas
Orações que ficaram perdidas entre
A nuvem negra e a nuvem branca do céu.
A cidade não é um porto, é um abismo.
A cidade é feita apenas por teias de aranhas.
Vozes esquisitas conversam sobre os
Duendes e os elfos, e os mendigos jogados
Na sarjeta são lembranças de que esses
Mundos imaginários são necessários para
Que as dores do coração não corroa
Sempre o trapo de ouro preto que carregamos.
Vejam só: cinco urubus passeiam em cima
Daquele prédio branco feito pelas mãos
De algum homem analfabeto que nunca
Saberá sobre mim e nem meus versos.
Suponho que a vida seja essa metáfora
Sem sentido que vou carregando.
Nebuloso sorriso de quem não quer nada.
E do outro lado do caminho uma outra pessoa
Passa calada.
UM MUNDO NOVO
Eu gostaria muito
De ser surpreendido
Por outro mundo.
Um mundo novo!,
Que nascesse da
Fúria de um deus colérico;
E que esse deus terrível,
Usando uma espada
De fogo devoradora,
E um capacete celta na cabeça,
Me falasse palavras inescrutáveis
Que o próprio tempo esqueceria.
Nossos corpos seriam
Transformados em cinzas.
Seríamos pó, unidos pela paixão.
E sentiremos o caminhar desse
Divino ser pisando no nosso espírito.
Ai de mim, que meu manto de
Fantasia não consegue tecer
Esse mundo novo.
O HOMEM INVENTADO
Eu fui por entre os
Bosques da imaginação.
E tentei em vão
Encontrar um sátiro.
Seus chifres de bode
Poderiam guiar minha dor,
E quem sabe, ao som de
Sua flauta mágica,
Eu iria dançar com as fadas
Morenas até que as
Estrelas parassem de girar.
Foi tudo em vão, confesso.
Porque o sátiro estava
Longe, muito longe,
Além, no norte da charneca distante.
E eu, um homem inventado
Apenas para sofrer nesse
Mundo terrível e triste,
Sentado em uma mesa branca,
Com lápis e canetas na mão,
Escrevendo poesias velhas
Que ninguém entenderia.
Ah, quem dera esquecer,
Ou nunca ter nascido nesse
Mundo sinistro de violências.
Ouvi uma voz que dizia:
Não, há sentido!
Que sentido?
Vou vagar por aí soprando
Ar pela cabeça avulsa de judeu
Que carrego sem ver o
Sátiro segurando sua flauta mágica.
Depois da oração, mentir e chorar.
Krähe, o belo Krähe pela estrada a frente vaiCom a espada embainhada Reluzente e afiada.
As donzelas por ele suspiram.
Seu cabelo é grande e loiro,Seu escudo é feito de bronze E um grande leão amarelo Enfeita-o."Eu tenho que ir por léguas avantes, Meu pai é o supremo comandante dos homens do sul. Não devo nunca perdoar meus inimigos. Minha espada não pode voltar sem sangue para dentro da bainha. Eu preciso lutar contra os orcs e os gigantes sem nenhuma pena".
A noite fria leva o grito,Pois uma voz ecoa além das montanhasOnde os gigantes sinistros habitam:
"Krähe o belo está morto! está morto""
Tombado foi seu corpo pelo giganteDe duas cabeças Grael. Seu escudo foiPartido e suas pernas foram quebradas.Seu corpo foi jogado aos pássaros.E os gigantes riram dos homens.
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