Sincero e reto como um martelo
nas madrugadas serenas e frias
lá estava eu e o livro de poesia.
Ah, eu engolia Neruda pela goela
abaixo, e tudo fazia sentido
como uma raiz, como um besouro.
Talvez a palavra fosse a inspiração
necessária, fosse o vento tempestuoso
que acendesse a candeia desiluminada
por palavras nojentas e filosóficas.
Chega de mentira, disse para mim mesmo,
mais também não suporto a verdade.
As coisas frias que não fazem sentido,
o dinheiro do contador, a tesoura que
corta o poeta na imaginação do meio-dia.
Silêncio: de manhã, de tarde, de noite
lia eu os versos candelabreiros de Neruda.
Ah, pássaro chileno de imensidão e inspiração,
quantos não quiseram derrubar a raiz do teu canto.
E eu canto, e eu passarinhei-o como um pássaro
dentro de Adamantina, perdido entre cristão e mercenários.
E as palavras como fogo iam brotando, caindo, sinceras
como um prato de comida sendo devorado pela fome.
Não quero saber, irmão Neruda, se não me entendem.
Se o meu amor não pode ser simples nem verdadeiro
também não aceito a morte do dia e nem o relâmpago.
Deixa-me acostumado de frente e de trás das marés.
Deixa-me aqui, diante das nações e dos homens.
Quero ir e quero ser como uma gaivota sem rumo.
Não me querem? Neruda, não faz mal, seu canto
me mostrou o que é necessário para o meu espírito.
(foto: ilustrativa)
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