quinta-feira, 8 de maio de 2014

A NOITE SEGUE

 Ele tem aproximadamente 17 anos. Conseguimos avistar sua figura com uma espécie de câmera invisível que há para nós.
É um jovem saudável,  mais não é muito musculoso. Os cabelos são loiros, misturados com um leve tom de marrom. Não está dormindo, embora aparente querer fazê-lo. Dois fones de ouvido saem por dentro de um de seus bolsos, da calça jeans que usa, e vão até sua orelha. São fones brancos. Ouve música. Acreditamos que seja uma bossa-nova. Ou um lento jazz americano. 
 Talvez ele seja algum músico, mas não devemos tirar tão apressadamente conclusões.
Focamos na cor de seus olhos. São azuis. Escuros, assim como sua calça.
Podemos ver com muito cuidado uma pequena corrente que entrelaça seu pescoço. Não é um crucifixo. Nela tem inscrito um nome. O nome que mostra é "Sara".
Não vamos tirar conclusões. Tanto pode ser um sinal que é o nome de uma amiga ou de sua mãe. Pensemos que seja o nome de alguma namorada. 
 Ele está muito cansado. Já é meia-noite em ponto no relógio de pulso que ele tem. Fecha por alguns momentos os olhos, como se quisesse meditar e alcançar lentamente o paraíso.
Seu relógio apita. Bipi-bipi. 12:OO. Ele se assusta com som tão importuno. Seus lábios se mechem, dizendo em baixa voz ao relógio: filho da puta!
 Abriu e movimentou os lábios como um rápido comercial de televisão. Ele olha a janela. Imagine que podemos ler seus pensamentos em forma de palavras: "Esses prédios me assustam! Parecem deixar a cidade mais cinzenta do que ela é!".
 Por alguns instantes, ele fecha os olhos. Um solavanco no ônibus o faz abri-los novamente. Dá um suspiro dizendo, Que musiquinha chata. Tira o celular do bolso da calça, continua a ouvir a música nos fones, enquanto começa a escrever uma mensagem de texto. Diz: "estou chegando. Espero que esteja bem. Bjos.". 
Re-lê ela por inteiro, antes de mandar. Olha para o teto, pensativo. Não podemos saber o que está pensando. 
Vemos, com os olhos dele, a confusão da cidade. Através dele, observamos da janela, as ruas e as pessoas que estão a atravessar por ela.. Vamos seguindo seus olhos: Uma loja de sapatos, um prédio, outro prédio, mais um prédio..., um salão de beleza, um super-mercado gigantesco, um bar de jazz, um pet-shop, a entrada de um imenso shopping, uma boate cheia de jovens, algumas igrejas.
Tudo isso podemos ver em uma velocidade incrível. 
Sabemos que ele está cansado, por que ora abre, ora fecha seus olhos. Por isso voltamos a observá-lo com a câmera invisível.
Ele dorme. 
A câmera se movimenta, e assim, com ela, podemos ver uma moça muito bonita e elegante entrar dentro do ônibus, passando por esse rapaz. Ele dorme.
Ela senta ao lado esquerdo dele. Ela está achando-o bonito. E vemos uma cena inacreditável: a moça está tentando, com os olhos, a paquerar o rapaz.
Ela se levanta, dá um suspiro, olha uma última vez para o moço, e aqui vemos uma cena inacreditável: Enquanto ela vai descendo as escadas, o moço vai tendo um sono desagradável. E logo que ela coloca seus dois pés e salta do ônibus para a calçada e sai a andar esquecendo rapidamente o rapaz, ele desperta. 
O ônibus segue.
 Ele jamais saberá que uma moça lindíssima paquerava-o enquanto dormia no banco. Ele tira o celular do bolso e vê a mensagem que o aguarda: "Estou te esperando". Ele sorri. Olha pela janela.
 Lá fora, a noite segue...
  

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