Índia, teu sol é um coração antigo,
queimando especiarias e lágrimas
no altar dos séculos.
China, muralha de vento e silêncio,
teus rios carregam milênios
em cada gota de arroz,
em cada canto de operário anônimo.
E o cosmo gira, indiferente,
cometas cruzam o frio
como espadas sem dono,
e nós, homens pequenos,
nos agarramos às sombras,
às preces,
aos deuses que já não respondem.
No deserto da fé,
um Cristo morto repousa,
seu corpo é um livro fechado,
seu sangue é apenas memória,
e as igrejas são cavernas vazias
onde ecoa a ausência.
Mães choram filhos arrancados,
suas lágrimas são mares sem porto,
seu luto é o peso de todo o universo
colapsando em um berço vazio.
E no entanto —
da Índia vem a meditação das cinzas,
da China vem o bambu que se curva sem quebrar,
do Oriente ecoa uma sabedoria antiga:
o sofrimento é raiz,
a dor é rio que nunca cessa,
a existência é um cão sem dono
que morde a própria cauda
enquanto o homem procura um sentido
que se dissolve como sal nas águas do nada.
E ainda assim,
entre pó e escuridão,
um canto sobe do Oriente,
como se a própria noite dissesse:
não há salvação,
mas há beleza
no simples respirar da terra.
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