sexta-feira, 19 de setembro de 2025

SABEDORIA ORIENTAL



Índia, teu sol é um coração antigo,

queimando especiarias e lágrimas

no altar dos séculos.

China, muralha de vento e silêncio,

teus rios carregam milênios

em cada gota de arroz,

em cada canto de operário anônimo.


E o cosmo gira, indiferente,

cometas cruzam o frio

como espadas sem dono,

e nós, homens pequenos,

nos agarramos às sombras,

às preces,

aos deuses que já não respondem.


No deserto da fé,

um Cristo morto repousa,

seu corpo é um livro fechado,

seu sangue é apenas memória,

e as igrejas são cavernas vazias

onde ecoa a ausência.


Mães choram filhos arrancados,

suas lágrimas são mares sem porto,

seu luto é o peso de todo o universo

colapsando em um berço vazio.


E no entanto —

da Índia vem a meditação das cinzas,

da China vem o bambu que se curva sem quebrar,

do Oriente ecoa uma sabedoria antiga:

o sofrimento é raiz,

a dor é rio que nunca cessa,

a existência é um cão sem dono

que morde a própria cauda

enquanto o homem procura um sentido

que se dissolve como sal nas águas do nada.


E ainda assim,

entre pó e escuridão,

um canto sobe do Oriente,

como se a própria noite dissesse:

não há salvação,

mas há beleza

no simples respirar da terra.



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