sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Alegoria



O mar abre suas portas de sal e de vento,

nele navegam palavras antigas

como barcos de sombra e claridade.

As ondas trazem o rumor da eternidade,

mas também o murmúrio dos homens

que buscam justiça entre rochedos.

Eis então Saramago,

levantando do fundo a sua voz,

um farol aceso sobre a noite humana.

Ele escreve como quem atravessa correntes,

como quem segura o leme

entre a fúria das marés e o silêncio das estrelas.

Seus livros são ilhas,

onde o homem se vê ao espelho,

nu e frágil,

mas também carregado de perguntas

que brilham como peixes sob a água.

Alegoria é o próprio oceano:

infinitas leituras,

infinitas rotas,

uma bússola partida

apontando sempre para dentro.

E Saramago caminha sobre a areia,

com passos lentos,

como se cada palavra

fosse concha recolhida

da memória do mundo.



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