sexta-feira, 19 de setembro de 2025

EU JÁ FUI, AGORA NÃO SOU


Eu já fui a pedra iluminada,

o fruto ardendo na boca dos homens,

a raiz enterrada no sangue do outono.


Agora não sou.

Sou o pó que se acumula nos ossos,

sou a sombra que não se deita,

sou o eco de uma palavra afogada.


Eu já fui carne de incêndio,

rio correndo contra as muralhas,

estrelas abertas como feridas no céu.


Agora não sou.

Sou o vazio das janelas quebradas,

sou o frio que desce das árvores mortas,

sou o silêncio onde repousam os vermes.


Eu já fui canto,

fui aurora,

fui pássaro rasgando o destino.


Agora não sou.

E neste não ser

há um peso infinito,

um mundo que me esquece

como se nunca tivesse respirado.



Nenhum comentário:

Postar um comentário