Eu já fui a pedra iluminada,
o fruto ardendo na boca dos homens,
a raiz enterrada no sangue do outono.
Agora não sou.
Sou o pó que se acumula nos ossos,
sou a sombra que não se deita,
sou o eco de uma palavra afogada.
Eu já fui carne de incêndio,
rio correndo contra as muralhas,
estrelas abertas como feridas no céu.
Agora não sou.
Sou o vazio das janelas quebradas,
sou o frio que desce das árvores mortas,
sou o silêncio onde repousam os vermes.
Eu já fui canto,
fui aurora,
fui pássaro rasgando o destino.
Agora não sou.
E neste não ser
há um peso infinito,
um mundo que me esquece
como se nunca tivesse respirado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário