sexta-feira, 19 de setembro de 2025

POEMA MÍSTICO

Cai sobre mim o silêncio dos astros,

um pó de ossos queimados

desce da noite como neve negra.

A terra range em seu sono,

abre crateras de saliva e cinza,

e dentro delas escuto o riso do nada.

Os homens caminham

com olhos de vidro,

levando seus corações partidos

como tigelas vazias.

Não há pão,

apenas a lembrança do trigo

que se afogou nos rios envenenados.

O céu é uma ferida

que sangra nuvens de enxofre,

e as aves caem em espirais lentas,

asas quebradas pelo vento imundo.

Tudo clama por um nome secreto,

uma palavra capaz de deter a ruína,

mas a boca do mundo está selada

com ferro e medo.

E eu, nesta noite,

sou apenas um eco:

um cântico místico que se perde

nas catacumbas do apocalipse,

onde o homem reza à própria sombra

e o silêncio responde com trovões.



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