domingo, 24 de agosto de 2025

Sou muitos, sou ninguém

Sou muitos, sou ninguém.

O mar conhece-me,

quando me sento à sua beira

e deixo que a sua respiração

entre na minha.


Sou a concha que guarda ecos antigos,

sou o barco que parte sem destino,

sou o sal que corrói as pedras,

sou o silêncio que a onda leva.


Na solidão encontro o vasto:

um horizonte que não exige,

um espaço que não pergunta,

um infinito que me acolhe.


A cada vaga,

sou um rosto que se apaga,

sou um nome que se dispersa,

sou um corpo sem fronteira.


E no fundo do oceano,

onde tudo é sombra e transparência,

há uma claridade que me chama:

a verdade de ser só

e ainda assim inteira.


Sou muitos, sou ninguém.

Mas o mar repete-me

na sua linguagem sem palavras,

e nesse canto sem dono

eu descubro a casa do mundo.






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