domingo, 24 de agosto de 2025

Fado do meu enfad



Trabalho.

Horas e horas,

mesmo quando o corpo reclama,

mesmo quando a alma esqueceu de existir.


Exploradores,

soberbos,

de pés limpos e mãos sujas,

rindo de quem acredita

que há justiça ou sentido.


O capitalismo come o mundo

como quem mastiga um chiclete gasto,

e ainda quer mais.

E nós, tolos, seguimos,

contando moedas, contando horas,

como se a vida fosse apenas

um recibo assinado em vão.


Não há religião.

Não há santidade.

A fé se perdeu no escritório,

entre planilhas e reuniões

onde se discute nada,

onde se decide menos ainda.


E eu caminho,

cansado, enfadado,

observando os homens que se acham deuses

mas têm pés de barro e mãos de ferro.


O fado do meu enfado

não é música.

É um grito silencioso,

uma raiva contida,

uma saudade de algo

que nunca existiu

mas que deveria existir.


E ainda assim

continuo aqui,

olhando a cidade que nunca dorme,

sabendo que o mundo é só isso:

trabalho, soberba, exploração,

uma risível ausência de Deus

e a poeira de nossas vidas no chão.



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