Trabalho.
Horas e horas,
mesmo quando o corpo reclama,
mesmo quando a alma esqueceu de existir.
Exploradores,
soberbos,
de pés limpos e mãos sujas,
rindo de quem acredita
que há justiça ou sentido.
O capitalismo come o mundo
como quem mastiga um chiclete gasto,
e ainda quer mais.
E nós, tolos, seguimos,
contando moedas, contando horas,
como se a vida fosse apenas
um recibo assinado em vão.
Não há religião.
Não há santidade.
A fé se perdeu no escritório,
entre planilhas e reuniões
onde se discute nada,
onde se decide menos ainda.
E eu caminho,
cansado, enfadado,
observando os homens que se acham deuses
mas têm pés de barro e mãos de ferro.
O fado do meu enfado
não é música.
É um grito silencioso,
uma raiva contida,
uma saudade de algo
que nunca existiu
mas que deveria existir.
E ainda assim
continuo aqui,
olhando a cidade que nunca dorme,
sabendo que o mundo é só isso:
trabalho, soberba, exploração,
uma risível ausência de Deus
e a poeira de nossas vidas no chão.
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