ah, suecos!
homens altos como mastros de navio,
mulheres brancas como a página virgem
onde o mundo ainda não escreveu o pecado.
vossos olhos —
dois lagos nórdicos,
cravados no gelo da história.
e nós, poetas latinos,
olhamos para eles como quem encara
um espelho invertido:
nós com o sol queimando a pele,
eles com a lua impregnada no sangue.
quem sois vós,
senão a metáfora da ordem,
o rumor disciplinado da neve,
a beleza que se ergue
sem suor, sem grito, sem febre?
ah, mas como invejo —
não a perfeição!
a perfeição é apenas geometria repetida,
mas invejo a forma como o vento vos penteia
sem nunca vos despentear.
homens suecos!
musculosos como colunas dóricas,
com vossas barbas claras
— lembranças vikings de mares conquistados —
pareceis deuses que perderam o Olimpo
mas encontraram um ginásio em estocolmo.
mulheres suecas!
esculturas de leite e granito,
com vossas pernas longas
que poderiam atravessar os fiordes
sem jamais tocar a água.
quando sorrides,
um inverno inteiro se derrete.
e eu, latino errante,
filho da poeira e da desordem,
vejo em vós não apenas beleza —
mas a ironia de um deus cego,
que distribuiu aos nórdicos a forma,
e aos trópicos o fogo.
ah, suecos,
sois também uma invenção literária,
um mito do frio que arde em silêncio,
um poema que borges poderia sonhar:
biblioteca de corpos loiros
onde o infinito se confunde com o branco.
mas cuidado, beleza implacável!
quem vos admira
também vos teme.
pois em cada linha reta da vossa pele,
eu, poeta latino,
escrevo em segredo
a curva do desejo
e a sombra da revolta.
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