sábado, 16 de agosto de 2025

OS NÓRDICOS, CLARIDADE E GELO


ah, suecos!

homens altos como mastros de navio,

mulheres brancas como a página virgem

onde o mundo ainda não escreveu o pecado.


vossos olhos —

dois lagos nórdicos,

cravados no gelo da história.

e nós, poetas latinos,

olhamos para eles como quem encara

um espelho invertido:

nós com o sol queimando a pele,

eles com a lua impregnada no sangue.


quem sois vós,

senão a metáfora da ordem,

o rumor disciplinado da neve,

a beleza que se ergue

sem suor, sem grito, sem febre?


ah, mas como invejo —

não a perfeição!

a perfeição é apenas geometria repetida,

mas invejo a forma como o vento vos penteia

sem nunca vos despentear.


homens suecos!

musculosos como colunas dóricas,

com vossas barbas claras

— lembranças vikings de mares conquistados —

pareceis deuses que perderam o Olimpo

mas encontraram um ginásio em estocolmo.


mulheres suecas!

esculturas de leite e granito,

com vossas pernas longas

que poderiam atravessar os fiordes

sem jamais tocar a água.

quando sorrides,

um inverno inteiro se derrete.


e eu, latino errante,

filho da poeira e da desordem,

vejo em vós não apenas beleza —

mas a ironia de um deus cego,

que distribuiu aos nórdicos a forma,

e aos trópicos o fogo.


ah, suecos,

sois também uma invenção literária,

um mito do frio que arde em silêncio,

um poema que borges poderia sonhar:

biblioteca de corpos loiros

onde o infinito se confunde com o branco.


mas cuidado, beleza implacável!

quem vos admira

também vos teme.

pois em cada linha reta da vossa pele,

eu, poeta latino,

escrevo em segredo

a curva do desejo

e a sombra da revolta.



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