quarta-feira, 13 de agosto de 2025

vida nômade


para nelly sachs


pelas areias do iêmen,

os pés deixam sulcos que o vento não apaga

as vozes sobem como incenso

carregando histórias gravadas

nas paredes da tenda e no sal da pele


nos pátios ensolarados de córdoba,

os sefarditas cantam em ladino

palavras que são chaves

para portas que o tempo trancou

e que só o amor ainda tenta abrir


nos campos gelados da polônia,

os asquenazitas acendem velas

que desafiam o sopro da neve

cada chama é um pequeno êxodo,

uma casa que se ergue no ar


iemenitas, sefarditas, asquenazitas —

três caminhos de pó e luz

três rios que bebem da mesma nascente

e que, ao se encontrarem,

reconhecem o gosto da água


o nomadismo é o sangue em movimento,

é a mala feita de silêncio e lembranças

é saber que, onde houver céu,

ali se pode rezar


e quando as canções se encontram,

o deserto, o jardim e a neve

cantam juntos —

diferentes e iguais,

como estrelas na mesma noite




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