para imre kertész com amor e reverencia
Sou judeu como se fosse
um erro de tradução —
do iídiche para o hebraico,
do hebraico para o silêncio.
Filho de eslavos que esqueceram
o nome dos seus deuses.
Netos de sinagogas queimadas
na neblina de Minsk.
Hoje estudo os judeus da Alsácia,
esses que usavam francês como escudo,
alemão como segredo,
e hebraico como sombra.
Lá, entre Strasbourg e o Loire,
o tzitzit batia como bandeira ao vento
sem nação.
Israel e Irã:
duas torres gêmeas de pólvora.
E no meio, o mundo assistindo
com os olhos fechados.
A guerra, irmão,
não é sagrada.
É um palíndromo sem paz.
Um rabino me disse:
"a Torá foi dada no deserto,
porque só no vazio se escuta Deus."
Mas o míssil não escuta.
O tanque não reza.
O drone não jejua no Yom Kipur.
Sou marginal —
não por escolha,
mas por aritmética:
sou o resto da divisão dos impérios.
Na margem, escrevo:
a paz é uma função que tende a zero,
quando todos resolvem ser certos.
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