Está frio. Não neva. Só o vento morde.
Não sei se é janeiro ou só o tempo morto.
Minhas mãos são pedras — e nem isso acorda.
Sento, calado, vendo a janela torta.
Queria estar na Espanha. Não por sol,
mas por silêncio quente, um vinho morno.
Queria ler Molloy junto ao lençol
de uma cama vazia em algum entorno.
Beckett saberia o que não dizer.
Talvez dissesse tudo com um não.
Eu, só espero o nada acontecer —
como quem fuma a própria solidão.
Me cubro com um livro, não por abrigo:
mas por costume de não ter comigo.
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