Queria ter sido
um operário do aço,
um martelo,
um punho,
um grito no espaço.
Mas nasci palavra,
verso torto,
língua que morde a própria garganta.
Ser um poeta,
que pecado, que arrependimento,
sou feliz, e morro assim,
revolução tristeza vento.
Não me dei ao luxo da calma.
A vida é um punhal em chamas.
A folha em branco?
É uma bandeira sem dono.
As palavras são dinamite!
Explodem nos becos da alma!
E eu,
feito trapo vermelho,
marchar rima abaixo,
quebrando a lógica dos muros
com o peito.
Cuspam na minha tumba!
Mas leiam meus versos.
Eles sangram!
Eles gritam!
Eles amam mais do que eu pude.
Ah, se ao menos o amor
não fosse uma greve
que nunca termina.
Ah, se ao menos o poema
pudesse ser um pão,
um beijo,
um fuzil.
Mas não.
Sou só isso:
letra,
lama,
luxúria da linguagem.
E no fim,
meu epitáfio será só uma frase:
-ser um poeta,
que pecado,
que arrependimento,
sou feliz,
e morro assim,
revolução tristeza vento.
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