quinta-feira, 31 de julho de 2025

Ser um Poeta


Queria ter sido

um operário do aço,

um martelo,

um punho,

um grito no espaço.


Mas nasci palavra,

verso torto,

língua que morde a própria garganta.


Ser um poeta,

que pecado, que arrependimento,

sou feliz, e morro assim,

revolução tristeza vento.


Não me dei ao luxo da calma.

A vida é um punhal em chamas.

A folha em branco?

É uma bandeira sem dono.


As palavras são dinamite!

Explodem nos becos da alma!

E eu,

feito trapo vermelho,

marchar rima abaixo,

quebrando a lógica dos muros

com o peito.


Cuspam na minha tumba!

Mas leiam meus versos.

Eles sangram!

Eles gritam!

Eles amam mais do que eu pude.


Ah, se ao menos o amor

não fosse uma greve

que nunca termina.


Ah, se ao menos o poema

pudesse ser um pão,

um beijo,

um fuzil.


Mas não.

Sou só isso:

letra,

lama,

luxúria da linguagem.


E no fim,

meu epitáfio será só uma frase:


-ser um poeta,

que pecado,

que arrependimento,

sou feliz,

e morro assim,

revolução tristeza vento.


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