Ele escrevia poemas como quem rasgava lençóis sujos — versos que cheiravam a sexo, a revolta, a noite que não perdoa. Nos bares, era lenda viva: falava de corpos, de desejos, de fúria contra o pudor e a hipocrisia. A palavra era faca, punhal, carne exposta.
Mas o tempo tem o dom de ferrar tudo. No fim, ele se calou. A voz que incendiava virou sussurro contido em sermons e domingos cinzentos. Passou a frequentar missa todo domingo, a usar terno alinhado, a condenar a libertinagem que antes exaltava.
Os versos sexuais, uma vez brasas vivas, tornaram-se cinzas guardadas num cofre trancado — ou melhor, esquecidas num livro mofado que ele nunca mais quis abrir. Agora, discursava contra o próprio passado, como quem renegasse um filho indesejado.
Ninguém sabe se era remorso ou medo. Talvez fosse só o desânimo de quem viu o mundo virar outra coisa — e perdeu o desejo de gritar.
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