sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Dentro das lembranças (o único desejo)

   Só posso ser uma coisa: escritor do amor, e nada mais. Que me perdoem os que querem que eu escreva coisas que não condizem com a minha alma. Não sei mais o que é escrever e descrever as ilusões poéticas. Não sou mais o bardo romântico. O amor se abriu para o meu coração como um cachorro vivo, latindo, enchendo a minha perna de urina amarela. Sei que isso pode parecer bizarro para as pessoas ditas sensíveis a alma poética, infelizmente ou felizmente, certamente ou incertamente, minha alma aportou nos mares da prosa, e agora meu dedos feitos de osso e carne só querem escrever histórias de amor.

Puff-puff, os que me criticam e os que me amam, os que me maldizem e os que me bendizem, o que me importa mais na vida é poder observar as pessoas e dar-lhe histórias. Contemplo aquele motorista do carro do lado esquerdo e imagino um grande homem capaz de parar o carro no meio da noite apenas para comprar cravos e rosas para a sua esposa enferma na cama. A menina que dorme na janela do ônibus vai vira um personagem clássico da literatura latino-americana: será a Branca de neve adormecida no ônibus depois de um dia longo de trabalho. Serei eu um escritor proletário? Longe de mim tais responsabilidade.

Só sei escrever sobre as coisas que me enchem de orgulho: o mar infinito que dança como uma bailarina nua no meio do palco, a casa verde onde deixei as minhas melhores alegrias e esperanças no tempo em que ela não era verde e sim rosa, o céu obscuro que me enche de alegria e espanto quando está cheio de estrelas e planetas encostelados em sua verve mística.
Essa noite ou nesses dias, irei compor as histórias de amor mais tristes que existem. Espero que um tapa no rosto desperte o coração ferido para que ele sinta a alegria de continuar amando.

Sei das minhas pretensões literárias.

Por fim minhas histórias ficarão dentro das lembranças. Existe maior alegria do que a alegria de saber que algum leitor esteve com os meus livros nas mãos e depois de terminar a leitura tinha os olhos cheios de lágrimas de alegria.

Não existe!

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