quarta-feira, 29 de junho de 2016

Leste



Deixa que o vento me leia,
cheio de areia e de solidões.
Que ninguém entenda os
versos que faço para as
estrelas e para os suores.

Ai, que sonho contigo...

Deixa que o destino ampare
minhas palavras secretas e
rasgadas como um poço de
petróleo no meio do nada.

Ai, que sonho contigo...

Deixa que alguém estenda
as mãos para mim com raiva
e empunhando rancores... Um
dia me lerão com lágrimas nos olhos.

Ai, que sonho contigo...

A serenidade

Assim foi você.
Assim fui eu.
Quando passeávamos
juntos pelo muro vivo
dos mundos que nos
rodeia.
Assim era você.
Assim era eu.

Como descrever
o teu rosto, o meu
rosto presos na fotografia
viva e pura do tempo?
Teu rosto suave de mulher
vulcão, meu rosto judaico
de peixe, de legume embaralhado
em dor de cabeça e suor?

Assim era tu e eu, amor meu,
assim era você e eu, amada minha.
Não deixaram no campo verde
a mensagem azulada que deixei
para você cheia de luz e de trevas
lunares?

Assim foi você.
Assim fui eu.
Não esqueça
nunca disso!

AMOR...

Amor, não
metaforize o meu amor
com cinzas, mares, chamas.
Amor, que
a noite possa unir as estrelas
dos seus olhos de peixe-espada
com o meu coração
de borracha.
Amor, olha, a noite que
ficou presa em minhas palavras,
em teu beijo de seda turca,
amor, como não chorar de
saudade dos teus cabelos
negros de
oriental?
Amor, não
metaforize o meu amor
com cinzas, mares, chamas.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

a musa dorme

a musa dorme
tranquila nas
estrelas do céu
e uma lua chora
lagriminhas de amor.

a musa dorme
tranquila nas
gotas do mar
e uma onde e
põe a cantar.
a musa dorme
tranquila nas
campinas do amor
e eu velo o dia
segurando uma só flor.

Ode ao que vi e vejo

Eu vi o porto, o suave vinho,
o mar bravio se agitando em
teus olhos de espuma, olhos
de onda profunda que choram
lágrimas de mel e de fogo que
me queimam as mãos de pelicano.
Eu vi o porto, a luz transbordante
do sol que me iluminava a paisagem
verde e delicada em que nós
dois nos amamos como duas
sombras apaixonadas.
Por ruas desertas fomos,
por rios sombrios, por portas
estragadas por cupins, por estrelas
verdes-escuras como tochas rupestres
desenhadas dentro do meu coração
envelhecido de ferrugem e sal e dor.

Era tudo e nada que rimava dentro
dos meus pensamentos confusos
de chumbo e de ossos, meus pensamentos
que te amavam enquanto eu via
o mar se sacudindo dentro dos teus
olhos amargos de morango, olhos
puros como a ração de um cachorro,
como a água doce de uma mina descoberta
no meio do campo.

Deus me livre não te amá-la, porque te amo tanto!

Por isso canto, amor, essas coisas
que vi no meio do caminho, que observei
enquanto corria pelo céu, pelo mar, pelo trovão,
pela chuva que molhava meu coração
de pó, com lenha e com fogo, com pedra e com aço.
Fui descobrindo os mundos dentro do mundo,
fui sendo tudo quando vi tu e todo mundo me
rodeando.

Eu vi o porto, os pássaros que cantavam,
e cantei junto para ti e para todos, e cantei
como uma flauta, cantei com amor, cantei
como todos os poetas que amei cantaram.
Amor, não posso existir sem cantar, não
posso viver sem seguir cantando esse porto,
esse vinho, essas casas fechadas com pessoas
mortas dentro.

Deus que me livre de não cantar o que não vi!

sábado, 25 de junho de 2016

Lua morna

Lua morna que se
vai
descendo a estrada
que se
vai
rumando outro porto
que se
vai
iluminando outro povo
que se
vai
Lua morna que se
vai.

Espelho de prata

Viu o meu
rosto? a moreninha
perguntou.
Tem voz de sirena,
tem olhos de estrela.
Ela é japonesa e o
meu coração se apaixonou.
Viu o meu
rosto? a moreninha
perguntou.

Canção do mar



O mar é um touro
que toureia contra a
terra.
O mar é cinza, cinza.
O mar é uma imensa
névoa que respiramos de
dia.

O mar é um touro
que toureia contra a
terra.
O mar é verde, verde.
O mar é verde porque
é um cemitério de
sirenas morenas.

O mar é um touro
que toureira contra a
terra.
O mar é azul, azul.
O mar é azul porque é
um espelho que reflete o
céu.

O mar é um touro
que toureia contra a
terra.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Arte poética

Arte poética

Eu mudo de arte poética
de meia, em meia hora.
Meu canto não se decide
cigano ou constelado de
pátria. 
Meu ritmo é como as
ondas: sempre lento,
sempre denso de
metáforas.
A cada instante uma
nova rajada de raios
sacodem minha matéria
poética, me enchendo de
terra, de suor, de grito desesperado
de amor e de noite.
Após a tempestade, um vento
pousa na tinta e na pena,
reciclando a palavra com
sal, manteiga, azeitona,
e tudo se mistura em minha
canção, tudo se perde dentro
de mim e dos objectos que canto.
Ai, amada minha, e como canto!
Canto sempre o mesmo mar,
a mesma mariposa que passa
nas janelas dos meus olhos.
A mesma estrela, o mesmo amor,
a mesma areia que me cega as mãos.
Canto sempre o mesmo asfalto,
a mesma cidade que dentro de outra cidade
se mistura em minhas palavras como um
campo cheio de gente e de concreto.
Ai, amada minha, e como me desespero
ao cantar osentimentos que me cercam.
Acabei de saltar de
uma imensa poesia sofrida,
aportei-me mais uma vez
nas águas marinhas do amor.
Quando me decretaram misterioso
como um trem feito de pelos caninos,
a policia poética declarou simplificado de mais
o meu canto.
Por isso não tenho grupo, não tenho sociedade.
Varo as madrugadas lendo e inventando histórias
que apago com as mãos queimadas de gelo.
E cada canto se torna um novo canto,
e uma nova vida, uma nova morte, um novo abismo
de luz, de onda, de tudo o que transborda
em minha volta
aparece refletido no espelho do meu poema.
Assim é minha arte, pequenos insetos.
Agora, voem e avisem os meus inimigos
que sigo
e que canto.

Não esqueças meu nome


Não esqueças meu nome
no fundo do escuro,
o mundo muda e a
terra gira.

Não esqueço que te amo,
amo teu corpo,
tua beleza de
safira.

Não esqueças meu nome
de mel, de pelicano.
Não esqueças meu nome
porque muito te
amo.