domingo, 26 de junho de 2016

Ode ao que vi e vejo

Eu vi o porto, o suave vinho,
o mar bravio se agitando em
teus olhos de espuma, olhos
de onda profunda que choram
lágrimas de mel e de fogo que
me queimam as mãos de pelicano.
Eu vi o porto, a luz transbordante
do sol que me iluminava a paisagem
verde e delicada em que nós
dois nos amamos como duas
sombras apaixonadas.
Por ruas desertas fomos,
por rios sombrios, por portas
estragadas por cupins, por estrelas
verdes-escuras como tochas rupestres
desenhadas dentro do meu coração
envelhecido de ferrugem e sal e dor.

Era tudo e nada que rimava dentro
dos meus pensamentos confusos
de chumbo e de ossos, meus pensamentos
que te amavam enquanto eu via
o mar se sacudindo dentro dos teus
olhos amargos de morango, olhos
puros como a ração de um cachorro,
como a água doce de uma mina descoberta
no meio do campo.

Deus me livre não te amá-la, porque te amo tanto!

Por isso canto, amor, essas coisas
que vi no meio do caminho, que observei
enquanto corria pelo céu, pelo mar, pelo trovão,
pela chuva que molhava meu coração
de pó, com lenha e com fogo, com pedra e com aço.
Fui descobrindo os mundos dentro do mundo,
fui sendo tudo quando vi tu e todo mundo me
rodeando.

Eu vi o porto, os pássaros que cantavam,
e cantei junto para ti e para todos, e cantei
como uma flauta, cantei com amor, cantei
como todos os poetas que amei cantaram.
Amor, não posso existir sem cantar, não
posso viver sem seguir cantando esse porto,
esse vinho, essas casas fechadas com pessoas
mortas dentro.

Deus que me livre de não cantar o que não vi!

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