O osso:
duro como a sílaba que não cede,
como a cidade que se repete
em seu próprio cimento.
O vazio:
um quarto branco dentro do peito,
um lote vago onde o vento
é o único arquiteto.
O poema:
máquina de cortar sombras,
engenho de limpar a língua,
desenho que só vive se não sobra.
A abelha que segue seu rumo:
disciplina que o mundo ignora,
trabalhadora do instante,
movendo o ar como quem lavra.
São Paulo:
pilha de concreto em febre,
cidade que mastiga o dia
e cospe o resto em névoa.
Rio de Janeiro:
curva onde a luz se inclina,
mas onde o avesso do brilho
também coleciona ferrugens.
Recife:
faca d’água dividindo pontes,
capim salgado nos olhos,
memória que corta rente.
E tudo isso:
bola de fogo rolando no mapa,
país que insiste em se queimar
para ver se acende.
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