para augusto dos anjos
Na noite sem aurora, ouvi suas vozes,
sussurros que corriam como vento em ruínas.
Não eram cânticos de consolo,
mas clamores de fome e saudade,
pois jazem além da terra e do tempo
os que nunca encontram repouso.
“Somos os ecos da carne perdida,” disseram,
“somos o pó que sonha, mas não desperta.
Vemos as estrelas, mas não tocamos,
ouvimos o mar, mas não bebemos.
E tu, ainda vivo, que ousas escutar,
saberás que teu riso é pó em espera.”
Tentei calar os ouvidos, mas não pude,
pois a noite inteira era feita de suas línguas.
E percebi — não há muro entre os vivos e eles,
há apenas véus de sombra tênue,
e cada respiração minha
já soa como ensaio de fantasma.
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