A sexualidade humana — pensava ele — não era senão um mecanismo disfarçado de mistério. As pessoas falavam de amor, de paixão, de desejo, como se fossem realidades distintas; mas, no fundo, tudo se reduzia a uma inquietação biológica, uma necessidade de se afirmar através do corpo, como um animal que rosna para provar que existe. Ela, deitada ao seu lado, respirava com o mesmo tédio de quem cumpre um dever. O quarto estava cheio de um silêncio viscoso, o tipo de silêncio que se instala depois do prazer, quando o corpo já se separou da alma e ambos se olham, estranhos, como cúmplices de um crime sem motivo.
Ele a observava — não com ternura, mas com curiosidade. Queria entender o que se escondia naquele corpo: se era apenas carne ou se havia algo mais, uma sombra, um eco, uma necessidade espiritual travestida de instinto. Mas a resposta nunca vinha. A sexualidade, dizia ele a si mesmo, é a mais humana das misérias. Mistura o que temos de mais físico com o que fingimos ter de mais elevado. Um gesto pode ser ao mesmo tempo sagrado e ridículo, sublime e grotesco.
No fundo, o desejo não é amor — é apenas a vontade de interromper a solidão por alguns minutos. Depois, tudo volta ao seu lugar: o corpo, o silêncio, a náusea. E, como sempre, a vida continua — suada, confusa, sem redenção.
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