terça-feira, 28 de outubro de 2025

A Menina Nórdica


Está frio.

Sempre esteve.

Mas agora o frio é uma casa —

e eu, o último móvel.


Vejo o teto.

Ou o que resta dele.

Cinza.

Como tudo o que algum dia quis ser cor.


A neve cai dentro de mim.

Devagar.

Tão devagar que penso:

talvez ainda viva.

Talvez.


O corpo pesa.

Mas o pensamento…

ah, esse rasteja.

Rasteja sobre os ossos

como uma sombra procurando o dono.


O que foi isto tudo?

Dias empilhados,

como lenha molhada —

nunca acenderam.


Riram de mim, às vezes.

Outras, me amaram.

Ou fingiram bem.

O amor também se finge.

E o fingimento é o que sobra.


Escuto o silêncio da minha própria respiração.

Que som estranho.

Um som que não quer existir.


O céu —

é só uma parede mais alta.

E Deus,

um eco mal ensaiado.


Penso:

não há sentido.

E isso me consola.


A insignificância —

é o único abrigo que resta

quando até o frio se cansa.



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