Está frio.
Sempre esteve.
Mas agora o frio é uma casa —
e eu, o último móvel.
Vejo o teto.
Ou o que resta dele.
Cinza.
Como tudo o que algum dia quis ser cor.
A neve cai dentro de mim.
Devagar.
Tão devagar que penso:
talvez ainda viva.
Talvez.
O corpo pesa.
Mas o pensamento…
ah, esse rasteja.
Rasteja sobre os ossos
como uma sombra procurando o dono.
O que foi isto tudo?
Dias empilhados,
como lenha molhada —
nunca acenderam.
Riram de mim, às vezes.
Outras, me amaram.
Ou fingiram bem.
O amor também se finge.
E o fingimento é o que sobra.
Escuto o silêncio da minha própria respiração.
Que som estranho.
Um som que não quer existir.
O céu —
é só uma parede mais alta.
E Deus,
um eco mal ensaiado.
Penso:
não há sentido.
E isso me consola.
A insignificância —
é o único abrigo que resta
quando até o frio se cansa.
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