sexta-feira, 19 de setembro de 2025

O silêncio ainda é meu amigo



      O silêncio ainda é meu amigo, porque não me exige nada, não me cobra explicações, não me pergunta de onde venho nem para onde vou, apenas me acompanha, discreto, sentado à minha mesa como um velho cão fiel que já esqueceu a fome e só guarda o costume da presença. As palavras, essas sim, são traiçoeiras, porque se abrem em bocas que não as merecem, transformam-se em moeda falsa, em eco vazio de discursos que prometem e não cumprem.

 

Mas o silêncio, esse não mente, não mascara, não oferece o que não pode dar. Talvez um dia me acusem de covardia, de me esconder atrás do mutismo, de evitar o confronto, e eu responderei, se me obrigarem a responder, que não há maior coragem do que encarar o vazio sem tentar preenchê-lo com palavras inúteis.

 

O silêncio ainda é meu amigo, mesmo quando se torna pesado, mesmo quando me pressiona o peito como uma pedra, porque nessa opressão encontro a verdade da minha solidão e, nela, a dignidade de não mentir a mim mesmo.



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