Ó língua minha, língua de carne e sangue,
verbo que pulsa nos ossos do mundo,
não és inculta, Bilac, criatura limitada,
mas matriz fecunda de pensamentos e gemidos.
Teus sons, teus ritmos, teus versos quiméricos,
não se curvam ao pedantismo morto
dos que confundem erudição com morte,
e desdenham a seiva que nutre a mente humana.
Em ti habitam serpentes de ouro e marfim,
palavras que se enlaçam como nervos e veias,
poemas que nascem do lodo e da decomposição
e sobem, sublimes, até o céu de nossas almas.
Bilac, teu olhar estreito não alcança
a vastidão orgânica do nosso idioma;
o português é músculo, é pus, é estrela cadente,
é o grito de um corpo que pensa e que sente.
Eu te canto, língua que se contorce e se eleva,
te celebro como quem adora o próprio sangue,
pois és mais que palavras: és vida, és morte,
és o verbo que germina mesmo nos túmulos do mundo.
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