quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Ode à Língua Portuguesa

Ó língua minha, língua de carne e sangue,

verbo que pulsa nos ossos do mundo,

não és inculta, Bilac, criatura limitada,

mas matriz fecunda de pensamentos e gemidos.


Teus sons, teus ritmos, teus versos quiméricos,

não se curvam ao pedantismo morto

dos que confundem erudição com morte,

e desdenham a seiva que nutre a mente humana.


Em ti habitam serpentes de ouro e marfim,

palavras que se enlaçam como nervos e veias,

poemas que nascem do lodo e da decomposição

e sobem, sublimes, até o céu de nossas almas.


Bilac, teu olhar estreito não alcança

a vastidão orgânica do nosso idioma;

o português é músculo, é pus, é estrela cadente,

é o grito de um corpo que pensa e que sente.


Eu te canto, língua que se contorce e se eleva,

te celebro como quem adora o próprio sangue,

pois és mais que palavras: és vida, és morte,

és o verbo que germina mesmo nos túmulos do mundo.



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