Ele subiu no palco da televisão,
a luz branca queimando a testa,
a câmera rindo com ele,
a plateia esperando o truque certo.
A piada saiu.
Era só uma piada, disse para si mesmo.
Mas o país inteiro ouviu,
e a gargalhada se transformou em grito,
o grito em fúria,
a fúria em sentença:
“Esse homem precisa morrer.”
Ele fugiu.
De avião, de táxi, de motel barato.
Deixou o país que o odiava
como se deixasse uma roupa suja no chão.
Nos Estados Unidos, o público riu.
A imprensa o aplaudiu.
O dinheiro veio rápido,
as câmeras, mais rápidas ainda.
Era rei de novo, mas em outra língua.
E o Brasil, sem perceber, começou a sentir falta.
O inimigo de ontem tornou-se herói na distância.
As redes sociais reverberavam memórias,
o esquecimento se transformava em adoração,
e o comediante, agora endeusado,
ouvia de longe o país inteiro chamando pelo seu nome,
sem saber se ria ou se chorava.
Ele era só um homem
com piadas na boca,
fugas no coração
e a certeza de que,
no fundo, a fama sempre é perigosa,
porque o país que te ama hoje
pode querer teu sangue amanhã.
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