quarta-feira, 27 de agosto de 2025

O Comediante

Ele subiu no palco da televisão,

a luz branca queimando a testa,

a câmera rindo com ele,

a plateia esperando o truque certo.


A piada saiu.

Era só uma piada, disse para si mesmo.

Mas o país inteiro ouviu,

e a gargalhada se transformou em grito,

o grito em fúria,

a fúria em sentença:

“Esse homem precisa morrer.”


Ele fugiu.

De avião, de táxi, de motel barato.

Deixou o país que o odiava

como se deixasse uma roupa suja no chão.


Nos Estados Unidos, o público riu.

A imprensa o aplaudiu.

O dinheiro veio rápido,

as câmeras, mais rápidas ainda.

Era rei de novo, mas em outra língua.


E o Brasil, sem perceber, começou a sentir falta.

O inimigo de ontem tornou-se herói na distância.

As redes sociais reverberavam memórias,

o esquecimento se transformava em adoração,

e o comediante, agora endeusado,

ouvia de longe o país inteiro chamando pelo seu nome,

sem saber se ria ou se chorava.


Ele era só um homem

com piadas na boca,

fugas no coração

e a certeza de que,

no fundo, a fama sempre é perigosa,

porque o país que te ama hoje

pode querer teu sangue amanhã.



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