sábado, 23 de agosto de 2025

O pintor da poesia


Haku acordava cedo,

antes que o sol se deitasse nas telhas da aldeia.

Preparava suas tintas com a calma dos que ouvem o vento.

Mas quando traçava o pincel sobre a tela,

não via paisagens,

nem montanhas,

nem rios.

Via palavras.


As cores se recusavam a ser cores.

O azul não era céu —

era silêncio.

O vermelho não era sangue —

era desejo.

O verde não era campo —

era esperança.


“Quero ser poeta”, dizia a si mesmo,

“mas só sei pintar.”

E cada quadro se enchia de versos invisíveis,

que apenas os pássaros pareciam compreender.


À noite, sonhava.

Nos sonhos, segurava não um pincel,

mas uma pena leve como asa.

Escrevia poemas que flutuavam no ar,

como lanternas de papel subindo em direção às estrelas.

Quando acordava,

encontrava manchas de tinta espalhadas no chão,

como se seus sonhos tivessem pintado sozinhos.


Certa manhã, uma criança entrou em seu ateliê.

Olhou para a tela e disse:

“Esse quadro está falando.”

Haku sorriu em silêncio.

O quadro dizia, sem palavras,

o que ele nunca soube escrever.


Assim seguiu sua vida:

pintando o que não se vê,

poetizando o que não se lê.

E na aldeia, começaram a chamá-lo

não mais de pintor,

não mais de poeta,

mas simplesmente:


o pintor da poesia.



Nenhum comentário:

Postar um comentário