Te amei como se ama o mar —
com medo e com sede.
Com os pés enterrados na areia da dúvida
e o coração atirado como âncora.
Tu vinhas com o sal nos ombros,
com os cabelos como algas rebeldes,
com o peito nascente
e a voz que soprava marés novas
em meu corpo de velho cais.
Te amei sem saber teu nome antigo,
sem querer teu antes —
porque eras onda,
e a onda não tem passado,
só avanço,
espuma,
e urgência.
No teu corpo navegavam
os navios da minha esperança.
Entre tuas coxas —
o estreito sagrado
onde minha alma perdia o leme.
Oh, sereia de carne e fúria,
teu sexo não era mistério,
mas revelação:
um mapa que o mundo nunca quis ler,
mas onde minha bússola se acendeu.
E quem ousará dizer
o que é homem, o que é mulher,
se até o mar muda de forma
a cada segundo?
Te amei —
nem nada
nem tudo,
mas como quem mergulha
e, afogado, aprende a respirar.
E se algum deus me negar teu beijo,
que me negue o céu,
a fala,
o ar —
mas nunca
a memória
do teu corpo-mar.
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