Ode Suada ao Glauco dos Olfatos
(ou: Pé-de-Poesia pra Cheirar e Esquecer)
Minha poesia não quer ser publicada:
quer ser enfiada num tênis sem meia
depois de três horas de metrô lotado.
Minha poesia quer ser um pé fedido.
Isso mesmo:
um pé suado,
descascando,
fedorento de viver.
Minha poesia quer ser metida no nariz de Glauco Mattoso
como um incenso pós-moderno
que exala rima, chulé e sacanagem.
Ela não quer ser entendida:
quer ser lambida.
Quer ser cheirada, fungada,
com a mesma concentração com que um crítico da USP
lê Os Cantos de Maldoror.
Minha poesia não é anjo.
É unha encravada.
É o vinagre do vinagre.
É a meia rolando no carpete,
gemendo em alexandrinos sem métrica.
Meu verso se masturba ouvindo Jards Macalé
e goza no pé do soneto.
Glauco, recebe esse pé de presente:
não precisa lavar.
Cheira e depois joga fora,
como se fosse um livro premiado da geração mimeógrafo.
Depois disso
me despeço.
Poesia pé
vai embora na noite.
Sumo entre ratos e sapatos esquecidos,
como um sonho punk numa calcinha lavada com Veja.
A poesia não quer fama.
Quer fungo.
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