quinta-feira, 15 de maio de 2025

O Segredo de Wallada


Wallada, flor de Al-Andalus, fecunda,  

Por outro homem, não por seu poeta.  

O segredo, que a noite escondeu tanta,  

No vento agora dança, aberto à meta.  


2

Ela era pura como a luz do dia,  

Maria aos olhos dos que a veneravam.  

Mas sob o véu da santa harmonia,  

Outro fogo os seus versos confessavam.  


3  

O guardião, que um dia foi discreto,  

Rompendo o silêncio, rasgou o véu.  

E a palmeira, erguida em seu segredo,  

Mostrou-se falo ao brilho do céu.  


Oh, Musa, que te julgavam divina,  

Terra e desejo em ti se confundiam.  

Teus versos, doces como azeite e vinha,  

Nos lábios do amor se dissolviam.  


5  

Que importa o escândalo, a voz alheia?  

Se em teu jardim brotou outra semente.  

A vida é breve, a paixão é feia  

Só pra quem teme a própria fonte ardente.  


6

Wallada, hoje canto tua história,  

Não como culpa, mas como destino.  

Pois até a mais pura das memórias  

Pode esconder um fruto proibido.  


-- 

Este poema explora a dualidade de Wallada—sua imagem sagrada versus sua humanidade ardente—através de rimas fluidas e imagens contrastantes. A palmeira, símbolo ambíguo, torna-se metáfora do desejo revelado. A estrutura em sextilhas permite uma narrativa musical, com versos que ecoam a tradição lírica árabe-andaluza.

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