1
Wallada, flor de Al-Andalus, fecunda,
Por outro homem, não por seu poeta.
O segredo, que a noite escondeu tanta,
No vento agora dança, aberto à meta.
2
Ela era pura como a luz do dia,
Maria aos olhos dos que a veneravam.
Mas sob o véu da santa harmonia,
Outro fogo os seus versos confessavam.
3
O guardião, que um dia foi discreto,
Rompendo o silêncio, rasgou o véu.
E a palmeira, erguida em seu segredo,
Mostrou-se falo ao brilho do céu.
4
Oh, Musa, que te julgavam divina,
Terra e desejo em ti se confundiam.
Teus versos, doces como azeite e vinha,
Nos lábios do amor se dissolviam.
5
Que importa o escândalo, a voz alheia?
Se em teu jardim brotou outra semente.
A vida é breve, a paixão é feia
Só pra quem teme a própria fonte ardente.
6
Wallada, hoje canto tua história,
Não como culpa, mas como destino.
Pois até a mais pura das memórias
Pode esconder um fruto proibido.
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Este poema explora a dualidade de Wallada—sua imagem sagrada versus sua humanidade ardente—através de rimas fluidas e imagens contrastantes. A palmeira, símbolo ambíguo, torna-se metáfora do desejo revelado. A estrutura em sextilhas permite uma narrativa musical, com versos que ecoam a tradição lírica árabe-andaluza.
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