POEMAS DE OUTRORA
PEQUENA SELEÇÃO DE VERSOS
A EXPLICAÇÃO DO AMOR
A água derramou-se do céu, falou-me
E ela me olhou com olhos pardais e belos,
Eu disse que Não, o Amor não pode ser
Explicado; antes, tem que ser vivido.
enfim, se ela soubesse que minha alma
doce alma de pássarinho vagasse pela janela
eu de certo iria olhar para ela e dar-lhe um
Beijo, e suspirar, tomando um pouco de café;
Ai, de mim, eu mesmo que sou esse ruso
Que escreve essa coisa para ti, pequena
Donzela que cheira a canela do meu apartamento.
Vou até a sacada do hotel e me jogo,
eu me arremesso por ti, em teus braços,
o amor é esse cheiro estranho de morte.
ARQUIVOS
vou pelo mar e olho de novo pela janela
lá não estás e eu estou junto com ela e
a melancolia vem em cima de um muro
doce ferro de chumbo e recordações de outrora.
agora eu sou essa pessoa morta,
que pensei estar viva, mas o fogo santo
não me despertou e me deixou escravo
e agora sirvo almas tenebrosas.
quisera eu ser liberto, igual naamã,
no entanto, meu eliseu eterno lá em cima se demora
enquanto eu fito esse jordão lamacento,
pasto onde quero deitar e não encontro
sentido algum de estar vivendo apenas
recordando meus antepassados mortos.
POEMAS DE OUTRORA
Olhei pelo carvalho aberto da memória
e me lembrei dos meus poemas de outrora
eram belos falavam de muitas coisas:
labirintos místicos, a velha China,
os espelhos com os rostos de uma bela
donzela, o infinito, o cosmos, as estrelas,
quais outros temas?: o acaso, as fantasias,
a filosofia schopenhaueriana, a morte,
em tudo isso percebi que eu era aquelas
palavras escritas na madrugada quando
minha mãe me mandava ir para a cama;
mágicos pensamentos de uma criança,
de uma criança imaginando a vida inteira
o que o barco do planeta esboroa para ela...
VERSOS APÓCRIFOS PARA O JUÍZO FINAL
escrevo-te, escrevo te sendo eu mesmo -
essa lembrança que carrego de ti nesse
bolso de futurismos tantos e que vou
compondo a maneira de walt whitman,
e por ser você essas páginas já não
choro nenhuma lágrima porque o
coração é apenas um objeto mentiroso
que não sabe o que tem e quer o que não tem,
vejamos os mais belos pássaros: o corvo,
o urubu da morte, esse animal que em
todo caso em toda vida pousa na sorte
daqueles que suspiram no último momento
sua agonia triunfante, quando lástima o
amor cambaleante dessa desventura ociosa, vida.
SONETO CURVADO E HERMÉTICO
a minha maneira pús me a escrever soneto
e dei a caso que o verso livre deve ser medido
e por isso viver cada palavra como se fosse
uma prateada coroa feita por bilac no espaço.
óh sábio camões, que cantou a ruína de
todo o povo portugues, esse povo de quem
herdamos toda a safadeza rupestre de desejar
uma buceta bem raspada aberta, ou um caralho
negro, duro, latejante na boca branquela,
avistai estrelas, ó destino estranho desse povo
Grande Brasil. raça dos amantes que desabrocha
igual uma bela rosa a cabeça do cabeção do
pau imenso e da xana aberta e lastima e diz
que esse soneto vive de uma só coisa: rimas.
PONTO FINAL
o mundo é absurdo, tá i daí?
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