sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Recordação



No vento frio da ante sala do cosmo
visualizando estranhos seres, espíritos de fuligem,
na rosa do marasmo me encontro
como um sobrevivente de alguma guerra,
e nesse vagar de selvas distantes
me distingo dos olhos com o hipopótamo
e celebro os labirintos que me prendem
com cadeias, adagas e serpentes,
e nesse entrelaçar indecente de fogos
eu me vejo sentado em um oceano antigo
onde não vivo, nem morro.
Para ninguém celebro minha
face aumentada de semitico oriental,
e nessa dureza ancestral onde a Africa
tece minhas linhas com douradas mensagens
vejo a letra se formando como um arcanjo,
e deliro, e pulo e canto sem saber que
direção tomar nesse universo abstrato.
E por isso a recordação vem como uma
estranha memória onde nada pode ficar.
Não sei se os olhos são negros, claros,
sei que tudo é possível para aquele que crê,
mesmo que o vidro dos sonhos do carro
estejam molhados e embaçados.
A rosa despertou com a luz, os pássaros
despertaram minha alma sofrida pelos vãos.
Tudo é vão nesse mundo insignificante,
e mesmo que sejamos pássaros delirantes
só nos resta nas pontas das flechas no corpo
essa lenta, viva, ferida recordação de antes.

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