sexta-feira, 1 de novembro de 2019
Momento de Sophia
Sophia estava andando na rua a caminho de sua casa quando viu a cena mais estranha que alguém poderia ver. Dois pássaros com chapéus pontudos estavam discutindo quem conseguiria mais pipoca das velhinhas e dos velhinhos que se sentavam na praça.
Ela não deu muita importância com isso. Afinal, desde que conversaram com as raposas e os hipopótamos, sabia perfeitamente que os animais assim como os seres humanos eram fadados a discussões filosóficas, momentos de guerras, paz e amor.
Sophia se sentou em um banco da praça e comecou a tomar seu suco de mangá, que era o favorito, e se lembrou que era sexta-feira, e que ela tinha que se encontrar com Paulo, seu namorado que morava em um apartamento de mais de cinco andares.
"Odeio aquele lugar", ela pensou em silêncio olhando os caramujinhos que também discutiam para ver quem chegaria primeiro na ponte do outro lado, "me disseram que não é bom morar em apartamentos. Eu acho isso válido".
Um vento frio e forte começou a soprar em seu rosto, e ela pensou que por alguns momentos era capaz de entender a linguagem do vento. "Não seja boba Sophia. O vento não fala, não tem boca, não tem pés, não tem mãos. Apenas passeia e nos toca sabe-se lá como.
Sophia tirou da sua bolsa vermelha um pequeno diário de anotação e escreveu com letra bonita e regular: ENCONTRAR PAULO HOJE NO SEU APARTAMENTO ÀS 19:00 HORAS EM PONTO.
Ela sempre fazia esse tipo de anotação porque vivia se esquecendo de coisas muito bobas, como o nome das ruas onde morava, ou encontros marcados, coisa que ela não podia, aliás, ela era chefe de um departamento de contabilidade de uma respeitável empresa dirigida por um japonês chamado Haruki Kenzaburo.
"Por pouco eu não me caso com um japonês. Ele era muito elegante, e muito bonito, e vivia me elogiando, dizendo que eu era a mulher da sua vida. Eu acreditei muito nele. Hoje ele está morto, coitado, morreu em um acidente de carro. Um enorme hipogrifo se jogou de um prédio e atingiu o carro onde ele estava. Mas fico imaginado como teria sido a minha vida com ele. Talvez fôssemos ao Japão, onde ele iria dedetizar duendes, gnomos e alguns elfos que ainda restam por lá. Aliás só soube que essas criaturas continuavam existindo por causa dele. Ele era um japonês muito orgulho, mas era safado, gostava de pegar nos meus peitos, e isso me deixava contente. O Paulo é uma mula que não faz nada. Prefere ficar conversando. Ainda me lembro dos beijos dele. Lá no Japão quem sabe eu já seria mãe de dois filhos, e estaria trabalhando dentro de casa ao invés de ser técnica de contabilidade".
Um estranho arrepio passou pelos seus braços. Quem sabe o seu namorado japonês teria feito sua vida ser como um oceano calmo entre as ilhas no Oceano Pacífico.
Sophia se levantou, e voltou a caminhar em direção a sua casa. O sol brilhava muito forte. Ela estava com calor. E os dois pássaros com chapéu pontudo continuavam discutindo quem iria mais pipoca das velhinhas e dos velhinhos que viessem ali na praça.
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