quinta-feira, 1 de março de 2018

Balada do vento ao meio-dia



Vem o vento do dia,
e estamos perdidos, imaginação,
com pedras sem vida, safiras.

Vem o vento da noite,
imaginação cortada entre o anzol,
a morte dentro dos travesseiros,
cobras imensas nos sonhos.

Onde estará o coração
desamparado por Deus?
Estou aqui, amada minha,
estou aqui, amor meu.
Onde está o coração
desamparado por Deus?

O vento chocalha suas óperas
e os poetas choram
suas melodias com
palavras quixotescas.

A vida é um anátema,
a morte é um poema.
Onde está o meu coração
de vidro espatifado?
Nas vitrines das lojas
dos velhos judeus...

Mas eu celebro esse
vento, esse vento sem norte,
esse vento, esse tormento.
Onde está, coração,
a minha sorte? A minha morte?
Não, os poetas não cantam absurdos,
nem cantam suas amadas,
nem celebram a vida,
nem querem a morte.
Onde está o resumo do livro da vida?
Onde estará a minha sorte em forma de alicate?

Quantas questões,
ó vento, vento das minhas entranhas,
cavalo no meio do campo, sereno,
enquanto passo, ardendo,
minhas mãos de touro e meus olhos
de mariposa.

Onde estará o meu coração de cimento?
O vento vem e me corta.
O vento me vende sem nada.
O vento, o espírito, o vento da vida,
esse vento misterioso, que tudo explica.
Que nada fala quando o seu som nos atravessa
e nos corta.


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