domingo, 8 de outubro de 2017

Em cada onda

Em cada onda 

Em cada onda
sou cada peixe,
sigo sendo mar,
sigo sendo alga,
sou o vento que
estremece as casas,
sou os marinheiros
que sonham com sereias,
sou a espuma que beija
a terra com gotas de sal 
encarecidas de mel e plumas,
em cada dia, em cada hora,
sou e não sou marinho,
sigo sendo como os barcos,
atropelo as gaivotas,
sigo agredindo as pedras
com beijos lentos de rocha,
por cada praia sem nome,
por cada povo sombrio e esquecido,
sigo sem mapas porque sou o 
norte, o sul lento e agreste,
sou o oeste terroso, o leste
feito de leques e conchas afundadas,
em cada onda, em cada mar,
em cada oceano sou um peixe
mergulhado no lixo submerso,
sou o tempo dentro dos navios
e dos aviões de guerra naufragados,
sou as baleias que cantam sem
saber para quê, e sigo caçando
como um baiacu, sigo entrando
os mais fundos mares escuros,
sou, sigo, vou, canto, com cada
coisa, com cada vida, com cada
ar marinho, frio, vivo, elétrico. 

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