sábado, 21 de janeiro de 2017

A PRISIONEIRA E O CARRASCO



(PEQUENA PEÇA FRUSTRADA DE TEATRO)


no fundo toca-se uma pequena melodia de fundo cigano

A prisioneira aparece junto com o carrasco. Ela tem os cabelos soltos até o ombro. O carrasco usa uma mascara. Ela está de frente para ele, e ele segura nas mãos uma espécie maça.


Prisioneira- Deixa-me livre, deixa-me livre.

Carrasco- Para onde queres ir? Além do mais, aqui há muito o que se fazer.

Prisioneira- Deixa-me ser verde como o campo, azul como o céu. Deixa-me ser roxa como a uva, transparente como as águas do riacho.

Carrasco- Não te manches de cinza, minha cara. Nem de ilusão. Uma barata voa, mais uma pedra não.

Prisioneira- Deixa-me livre.

Carrasco- Silêncio. Não te quero ouvir mais.

Prisioneira- Liberdade, liberdade, onde estás?

Carrasco- Que gritas, insana?

Prisioneiro- Grito o nome do Deus vivo.

Carrasco- Não te suponho que creiais em algo.

Prisioneira- Salva-me, salva-me.

Carrasco- Queres te salvar de quê?

Prisioneira- De ninguém, de todos...

Carrasco- Dizes tolices e sandices.

Prisioneira- De mim não tens a alma.

Carrasco- Não te quero a alma, nem o corpo.

Prisioneira- Minha vida não é tua.

Carrasco- Silêncio, ingrata. Meu nome é sofrimento.

Prisioneira- Deixa-me livre, deixa-me livre.

Carrasco- Livres são os peixes no fundo do mar, livre são os pássaros voando no ar.

Prisioneira- Deixa-me ser um peixe, e amar. Deixa-me ser um pássaro e voar.

Carrasco- Cala-te, não ouses pronunciar bobagens.

Prisioneira- A noite chegou, mais voltará o dia.

Carrasco- Que tens, que dizes?

Prisioneira- Só canto poesia!

foto: ilustrativa

Nenhum comentário:

Postar um comentário