quarta-feira, 25 de março de 2015

PARTE (A) - sobre a criação do poema

A REVELAÇÃO DO POEMA

O poema se revela
                     em silêncio.

Quase tímido, se abre,
                            mostrando-se em partes.

Revela o que quer revelar:
a coisa exposta no quadro do museu.

O poeta é simples cirurgião
que contempla a obra feita.

A obra está exposta no museu-palavra, no museu-livro,

...e se veste a roupa que faltava
o poema se movimenta como peixe...



O NASCIMENTO DO POEMA

Quase um poema
me nasce; ai, se o coração falasse.
Se nascesse de parto natural
o poema riria.

O coração ri, na sua pergunta dúbia:
como seria a risada da poesia?

Não há risada 
no nascimento de nada.
Como planta o poema cresce.
Tinta, quase semente no papel.




O ENGENDRAR DO POEMA

o poema não quer nascer;
ele está dentro do ser, engasgado.
ele precisa nascer, tomando forma
para crescer aos lados.

o poema não quer nascer;
ele quer se criar, se conhecer.
a cada golpe suave do martelo/tinta
sobre o papel branco, suas cicatrizes

gritam: estou aqui, vindo, diz sem engasgo.

o poema não quer nascer;
ele se faz como que forçado.
não sabe se sente ou não-sente.

e vai o poema se engendrando, como árvore crescendo.... 

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