segunda-feira, 11 de junho de 2012

O fogo que brota surrealista


1
Ao menos ao fogo que brota
por entre a terra dos teus olhos obscuros
como a noite.
Já estás morta. Já estás acordada. Voas
como uma pequena gaivota bêbada
Perdida em si mesma, perdida ao vento
E some teu sorriso no horizonte.

De tuas garras de tatu mapas se abrem:
vejo terras secas, miragens eternas, relâmpagos,
lâmpadas, super-mercados, dentes, sorrisos,
jovens roqueiros e mulheres dormentes.

Já madrugava em beira e não havia eira nenhuma.
Fogos de artifícios repartiam a coca e o seus lábios de mim.
Nada fugia por entre a noite (quantas noites
atravessamos sem sorrir, sem chorar, sem se abraçar?).
E eu não vi nada. O fogo se abriu em arpão e um caixão de

tristeza e pureza. A erva se abriu: meu peito estava lá.
Mais você, você que era o essencial e o natural
sumiu de vista, relampeando por entre flores e cheiros de amores

(e rimavam com dores os amores).
E brotava tão obscuro por entre a madrugada celestial
e o seu sorriso estava cheio de bombril.

Papel de fogo: eras uma víbora que me encantava 
com sua dança entre neblinas e dentes. 
E eu não estava sequer sorridente (totalmente transparente).

2

E então me abriu o barco do fundo da alma
Mais infelizmente naufraguei por entre conchas e mares baixas
E o caramujo gigante me acolheu junto a lama e algas
e em seu casco eu estive sobretudo lendo e rindo de piadas
Sobre mim mesmo. Era brilhante a luz (era mui briluz)
e revoalvam as gaifanhotas

e em mim o sorriso desperdiçado. Balbuciei por entre as estrelas:
cores em relâmpagos
O bá lá lá 
eu chegarei lá
Quem sabe por um dia entre outro
Era muito escuro dentro do mar (e eu respirava sem tua boca).

Tenebrosa noite se formou por entre o arco-íris braco de cores
E todos os amores se perderam e o capitão riu de mim.
Por favor leia mais histórias em quadrinhos
aconselhou-me o gordo do outro lado do portal.

Eu rio dele (ele sabe). Não sabe nada. Não. Talvez não saiba.
Talvez Pound saiba: mais ele morreu há tempos.
E seus olhos se perdem nos meus inteiros
E eu não desejo a faca que me corta nem a colher que me fere

E tudo segue na estrada
Entre luzes de relâmpagos
e trovoadas. E tudo foi desperdiçado. E nunca mais foi encontrado
(sempre no sempre, foi sepultado).

(foto: ilustrativa)

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