Há um cheiro de morte no homem,
mas isso deve ser a vida, essa miserável.
Ele caminha com passos tortos,
carregando o peso de uma infância
que nunca terminou.
As mãos —
já não seguram nada,
mas ainda tremem,
como se algo pudesse voltar.
Ele fala com a terra,
com o cão morto,
com a sombra que o segue
mesmo quando não há sol.
O corpo apodrece devagar,
em silêncio,
como uma desculpa que ninguém escuta.
E ainda assim —
ele respira.
Respira o ar
como quem aceita a sentença.
Talvez seja isso o milagre:
chamar de “vida”
o que fede,
o que dói,
o que insiste.
Há um cheiro de morte no homem,
mas isso deve ser a vida,
essa miserável —
essa que nunca aprende
a morrer direito.
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