terça-feira, 28 de outubro de 2025

Há um cheiro de morte no homem



Há um cheiro de morte no homem,

mas isso deve ser a vida, essa miserável.


Ele caminha com passos tortos,

carregando o peso de uma infância

que nunca terminou.


As mãos —

já não seguram nada,

mas ainda tremem,

como se algo pudesse voltar.


Ele fala com a terra,

com o cão morto,

com a sombra que o segue

mesmo quando não há sol.


O corpo apodrece devagar,

em silêncio,

como uma desculpa que ninguém escuta.


E ainda assim —

ele respira.


Respira o ar

como quem aceita a sentença.


Talvez seja isso o milagre:

chamar de “vida”

o que fede,

o que dói,

o que insiste.


Há um cheiro de morte no homem,

mas isso deve ser a vida,

essa miserável —

essa que nunca aprende

a morrer direito.



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