terça-feira, 9 de setembro de 2025

O Mundo Destruído


O mundo está destruído dentro de mim,

como se a casa onde nasci tivesse ruído sob o vento.

As paredes, antes cheias de cheiro de pão e madeira,

agora só guardam ecos de vozes que se foram.


Os avós estão mortos,

mas seus olhos permanecem em retratos na parede.

Olhos que me observam com paciência e julgamento,

que já não podem me abraçar nem me consolar.

E eu os vejo e vejo a mim mesmo

como pedaços de uma história esquecida.


O silêncio de Deus é pesado como chumbo.

Não há trovões que respondam,

não há vento que leve minhas preces.

E eu caminho pelos quartos vazios,

procurando sinais, vestígios de fé,

mas só encontro sombras,

e o cheiro frio da madeira antiga.


As dores se acumulam como pó nos móveis.

Cada passo levanta memórias que cortam,

como facas sem fio, como vento de inverno.

E a dúvida, eterna companhia,

sussurra: “Para que serve a vida,

se tudo se perde, se tudo se esvai?”


As lembranças me arrastam para dias de calor e risos,

quando a casa era viva, e o mundo parecia eterno.

Mas agora o quintal é só poeira,

e o jardim morreu sem que ninguém chorasse.


Olho pela janela, mas não há horizonte,

apenas campos cinzentos, secos, vazios.

O céu não responde, o vento não consola,

e o tempo passa, lento, como um animal ferido.


Sinto falta da fé que os avós carregavam,

da confiança que sustentava tudo,

como pilares invisíveis, mas firmes.

Agora resta apenas a dúvida,

um vazio que ecoa nas paredes sem cor.


O mundo está destruído,

mas ainda há lembranças que queimam por dentro.

O cheiro do pão no fogão,

o riso abafado do avô,

o olhar doce da avó que tudo perdoava.

E nesses fragmentos, algo resiste.


Mas mesmo os fragmentos doem,

pois me lembram do que se perdeu,

da ausência, da solidão,

do mundo que antes era inteiro

e agora é apenas memória e pó.


E ainda assim, no fundo do peito,

há uma centelha que recusa o fim.

Não é fé clara, nem certeza de redenção,

é apenas insistência da vida,

como uma flor que nasce na pedra seca.


O mundo destruído é meu espelho,

minha casa, meus mortos, minhas dúvidas.

Mas talvez, entre dor e silêncio,

entre o esquecimento e a lembrança,

possa nascer algo que não seja nada,

ou que seja o suficiente para continuar.




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