O mundo está destruído dentro de mim,
como se a casa onde nasci tivesse ruído sob o vento.
As paredes, antes cheias de cheiro de pão e madeira,
agora só guardam ecos de vozes que se foram.
Os avós estão mortos,
mas seus olhos permanecem em retratos na parede.
Olhos que me observam com paciência e julgamento,
que já não podem me abraçar nem me consolar.
E eu os vejo e vejo a mim mesmo
como pedaços de uma história esquecida.
O silêncio de Deus é pesado como chumbo.
Não há trovões que respondam,
não há vento que leve minhas preces.
E eu caminho pelos quartos vazios,
procurando sinais, vestígios de fé,
mas só encontro sombras,
e o cheiro frio da madeira antiga.
As dores se acumulam como pó nos móveis.
Cada passo levanta memórias que cortam,
como facas sem fio, como vento de inverno.
E a dúvida, eterna companhia,
sussurra: “Para que serve a vida,
se tudo se perde, se tudo se esvai?”
As lembranças me arrastam para dias de calor e risos,
quando a casa era viva, e o mundo parecia eterno.
Mas agora o quintal é só poeira,
e o jardim morreu sem que ninguém chorasse.
Olho pela janela, mas não há horizonte,
apenas campos cinzentos, secos, vazios.
O céu não responde, o vento não consola,
e o tempo passa, lento, como um animal ferido.
Sinto falta da fé que os avós carregavam,
da confiança que sustentava tudo,
como pilares invisíveis, mas firmes.
Agora resta apenas a dúvida,
um vazio que ecoa nas paredes sem cor.
O mundo está destruído,
mas ainda há lembranças que queimam por dentro.
O cheiro do pão no fogão,
o riso abafado do avô,
o olhar doce da avó que tudo perdoava.
E nesses fragmentos, algo resiste.
Mas mesmo os fragmentos doem,
pois me lembram do que se perdeu,
da ausência, da solidão,
do mundo que antes era inteiro
e agora é apenas memória e pó.
E ainda assim, no fundo do peito,
há uma centelha que recusa o fim.
Não é fé clara, nem certeza de redenção,
é apenas insistência da vida,
como uma flor que nasce na pedra seca.
O mundo destruído é meu espelho,
minha casa, meus mortos, minhas dúvidas.
Mas talvez, entre dor e silêncio,
entre o esquecimento e a lembrança,
possa nascer algo que não seja nada,
ou que seja o suficiente para continuar.
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