Não sei quem ela era, mas tinha um perfume sedoso de nuvens,
e então perguntei: seu nome?
Ela ficou diante da tela em branco.
O branco tinha algo de abismo.
O branco tinha algo de tudo.
Pintar uma rosa? Pintar um sopro de cor sem forma?
A decisão era mais que escolha de tinta.
Era escolha de ser.
As mãos tremiam levemente,
não por medo da tela, mas por medo de si mesma.
Porque no fundo sabia que não se tratava de pintar a rosa.
Era a rosa que a pintava por dentro.
E o abstrato, esse silêncio colorido,
era a própria alma tentando se desprender do corpo.
"Não sei quem ela era, mas tinha um perfume sedoso de nuvens",
pensou ao lembrar-se da mulher que atravessara sua memória
sem jamais ter existido.
Talvez fosse a rosa.
Talvez fosse a cor.
Talvez fosse ela mesma, em outra vida, olhando para este mesmo instante.
E então perguntou em silêncio à ausência que a visitava:
"Seu nome?"
Mas não houve resposta.
Houve apenas o som do pincel tocando o ar,
antes mesmo de tocar a tela.
O gesto de pintar era quase uma prece.
A rosa?
O abstrato?
Não havia diferença.
Porque toda forma nascia da mesma fome,
a fome de traduzir o indizível.
E ela sabia, com uma clareza dura,
que não pintava para os outros.
Nem para o mundo.
Pintava para olhar para dentro.
Para encontrar na rosa ou no traço sem forma
a resposta que não sabia formular.
A tela começou a se encher de cor.
Não era rosa, não era abstrato.
Era uma mistura impossível,
um corpo de pétala dissolvido em vertigem.
Algo que ninguém compreenderia por inteiro.
E talvez fosse isso mesmo:
a obra não como explicação,
mas como testemunho de uma pergunta infinita.
Ela pintava para aprender a perguntar melhor.
Quando terminou, não havia fim.
Havia silêncio.
Havia cor.
E havia uma estranha certeza:
a de que, ao perguntar "seu nome?",
tinha respondido a si mesma.
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