em homenagem a João Cabral de Mello Neto
o que a vida tem de melhor
— para ti, joão cabral —
é a literatura,
esse rio que não se apressa,
que se constrói pedra por pedra,
que recusa a mentira da espuma.
na tua mão, a palavra
não era flor para o enfeite,
mas raiz que rompe a terra
e busca a água secreta.
sabias que escrever
é erguer uma casa
com tijolos de sílaba
e janelas abertas para o real.
por isso, quando penso em ti,
penso no que permanece:
a claridade das linhas,
o sol filtrado pela geometria,
a recusa da sombra falsa.
a literatura, para ti,
foi uma forma de plantar luz,
de medir o mundo
com régua exata,
de encontrar no árido
a sede que ensina o caminho
até a água.
e porque disseste isso,
sabemos:
o que a vida tem de melhor
não é apenas viver,
mas construir o que permanece
quando o vento leva tudo.
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