sábado, 23 de agosto de 2025

A cidade fria

Campinas,

cidade fria sem neve,

fria de um vento seco,

que levanta o pó da sujeira

nos cantos da calçada.


O povo caminha —

não belo, não altivo,

mas pesado,

com olhos que desviam,

com rostos cansados

de ônibus e filas.


As ruas, porém,

guardam uma bondade estranha:

um cachorro dormindo ao lado da banca,

a sombra magra de uma árvore sobrevivente,

a conversa curta do jornaleiro

que ainda sorri sem motivo.


Feia?

Talvez.

Mas também verdadeira:

sua aspereza é sincera,

seu frio é de pedra,

seu calor — quando aparece —

é breve como um lampejo.


Campinas, cidade fria,

onde até a feiura respira,

onde até a sujeira

se torna um retrato

de tudo o que somos

quando ninguém nos olha.



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