Vou pelo campo e não choro,
porque chorei demais nas cidades.
Chorei entre postes acesos e policiais fardados,
chorei debaixo das línguas secas dos padres,
nas escolas onde apagaram meu corpo com giz branco.
Vou pelo campo e beijo meu irmão nu de barro,
o musgo nos nossos pés é mais puro que os sermões,
nosso fôlego uma canção sem nota,
um grito molhado no cu do universo —
liberdade é o nome que dou ao seu peito suado.
Amo homens como quem odeia a guerra,
amo homens como quem lambe feridas de um mundo doente,
amo homens porque o amor entre homens
foi crucificado entre duas televisões.
Queimem a Bíblia nos armários fechados!
Rasguem as leis que me chamam aberração,
que merda é essa de amor cristão
se Cristo nunca amou com língua, com mão,
se nunca chorou ao gozar na barriga de um carpinteiro!
Eu vi!
Vi os poetas escondidos nos banheiros da rodoviária,
li seus versos riscados com mijo nos ladrilhos,
ouvi os beijos que a moral tentou calar com pastores de terno,
mas não conseguiram calar o cio da verdade,
a beleza da carne que arde e não se desculpa.
Vou pelo campo e não choro —
porque lá, entre os bois, os grilos e o vento,
posso tocar meu amor sem algemas,
posso dizer “te amo” sem ver Deus virar o rosto,
posso abrir a boca e gritar
que minha alma tem barba, peito e desejo.
E que isso, isso, porra —
é sagrado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário