quinta-feira, 17 de julho de 2025

O Nome que Me Leva


Carrego no rosto um mapa que ninguém decifra.
Não sou um, sou um eco.
Falo uma língua herdada em fragmentos,
e em cada sílaba dorme um exílio.

Sou judeu. Isso não basta.
Asquenazita por insistência,
Sefardita por saudade,
e o nome — Czaczakes — me arrasta como um novelo de ferro
que nunca desenrola,
mas brilha.

Me disseram que era polonês.
Mas os olhos do meu avô vinham do Iêmen,
e o vento em suas roupas era feito de areia quente.
Me disseram que era iídiche,
mas ouço um salmo em árabe cada vez que fecho os olhos.
Me disseram que era europeu,
mas meu sangue dança uma gaita celta
e sonha com os campos da Irlanda.

Não sou um homem.
Sou um assembleia silenciosa de mortos
que caminham comigo como sombras bem vestidas.
Meus ossos são fósseis de diásporas.
Minha pele, uma fusão de desertos e neves.

E, no entanto, sorrio.

Sorrio porque sou todos eles.
Sorrio porque, ao contrário do que quiseram,
a divisão me multiplicou.
Sorrio porque falo com a língua de muitos
e sonho com a alma de um só.

Não peço que me entendam.
Peço apenas que me contem.

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